Olho no Olho

Juventude consciente

Camilla Muniz

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Desde o dia 15 de outubro, emissoras de rádio e TV de todo o Brasil estão veiculando a “Campanha de Conscientização do Voto Jovem”. Com o intuito de incentivar adolescentes de 16 e 17 anos a fazerem seu título de eleitor, a campanha enfatiza a importância do documento para o exercício da cidadania através da mensagem “Se você tem 16 ou 17 anos você pode dizer o que pensa, mas sem o título de eleitor você não será ouvido. Seu título é a sua voz. Faça seu título de eleitor, seja ouvido. Decida o futuro do seu país”.

A divulgação, prevista para ocorrer até 15 de dezembro, foi motivada por dados estatísticos reveladores do atual desinteresse dos jovens pela política. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre outubro de 1992 e junho de 2007, o número de jovens de 16 e 17 anos que optaram por tirar o título eleitoral caiu de 3,57% para 1,66% do eleitorado. Em 1992, ano em que diversos estudantes se mobilizaram pelo impeachment de Fernando Collor de Melo, o número de eleitores com 16 e 17 anos era de 1.398.841 (1,55%) e de 1.822.639 (2,02%), respectivamente. Em junho deste ano, novos registros demonstraram que o número de jovens eleitores com 16 anos era de 507.939 (0,4%) e de 1.584.199 (1,26%) com 17 anos.

Os adolescentes de 16 e 17 anos conquistaram o direito ao voto na Constituição de 1988, mas a participação dessa parcela da população no processo eleitoral é facultativa. Para ilustrar a preocupação da juventude com as eleições e compreender o que motiva — ou desmotiva — o voto, o Olhar Virtual conversou com duas alunas da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), que indicam as causas mais prováveis para a queda, quase pela metade, do número de jovens eleitores, em um período de 15 anos. Confira as opiniões das estudantes.

 

Luana de Freitas

19 anos, aluna da Escola de Comunicação


Conceber um sistema de governo como efetivamente democrático implica, ao mesmo tempo, assegurar a participação popular na vida política de seu país. Mesmo que representado pela figura de um governante, é do povo que devem emanar as verdadeiras decisões, fazendo prevalecer sempre seus interesses e suas necessidades.

Porém, falar em democracia hoje, no Brasil, como “governo do povo” soa um tanto utópico e idealista. Na realidade o que há é um quadro marcado por esquemas de corrupção e pelo predomínio de interesses particulares. Relega-se, assim, à população o papel de mero espectador passivo fantasiado de cidadão compromissado com o futuro do país apenas em tempos de eleição e esquecido, como num passe de mágica, de deputados corruptos que escondem dólares em suas roupas íntimas.

É certo: o voto é a ferramenta primordial que nos concede o direito à voz. Contudo, nenhuma mudança concreta pode ser feita enquanto nos faltar consciência política. Por isso, há necessidade de um maior engajamento desde a juventude. É a oportunidade de amadurecer e passar a encarar o voto não como obrigação e, sim, como direito, para que, quando adultos, não nos resignemos com naturalidade ante mais um caso de corrupção no país.

 

Fernanda Prates

18 anos, aluna da Escola de Comunicação


A juventude passa por um momento de sério desânimo em relação ao futuro político do país. Não raro, ouvimos nossos pais comentarem que nossa geração é alienada, e que, na época deles, os jovens eram mais engajados e reivindicavam seus direitos, lembrando-nos sempre sobre os movimentos estudantis contra a Ditadura Militar.

Sinto que, durante certos momentos, sempre em regimes autoritários os jovens têm um objetivo, uma oposição concreta a uma situação real. Era uma questão “simples”, no sentido de “queremos nossa liberdade de volta”, fosse ela política, social ou de expressão pessoal. Os jovens iam para a rua com um propósito, com uma coisa só em mente.

Atualmente, a conjuntura política é diferente. Vivemos em um regime democrático, no qual as “falhas” do governo não são tão “evidentes”, no sentido de que não é fácil unir toda uma massa em torno de uma oposição comum e clara. Os movimentos estudantis são dispersos e conflitantes e isso se percebe dentro da própria UNE – toda fragmentada e dividida em blocos de ideologias políticas distintas. Durante o regime militar, sabia-se que a reivindicação traria algo melhor para o país, que o estudante teria o poder de restaurar a democracia com sua manifestação, e isso — a democracia — era o mais importante.

Na última votação, por exemplo, tivemos quatro opções, incluindo dois personagens que, desde o começo, já se sabia não terem chance alguma. Entre os dois restantes, tínhamos Lula, o presidente anterior, e Alckmin, representando algo quase oposto à idéia de Lula, o grande favorito da classe média alta. Eu, por exemplo, não tirei o título a tempo, muito por não fazer a mínima questão de participar dessa decisão. Afinal, o que iria mudar? A democracia já existe, o que eu posso querer mudar radicalmente? Que candidato poderia propiciar essa mudança?

Acho que essas foram dúvidas que muitos jovens tiveram. E eu, pelo menos, não achei resposta alguma para nenhuma delas. De meus amigos que votaram, eu diria que se dividiram entre os que fizeram o “voto da família” (família lulista, logo, voto no Lula) e os que votaram “nulo”. Vimos também uma campanha inteira pelo voto nulo como um modo de protesto. Mas, seria mesmo? Para mim, o voto nulo é apenas um modo de se abster de uma decisão que em nada acrescentaria a ninguém. Ninguém nunca esperou uma modificação real do futuro da nação naquelas eleições. Acho que falta motivação, aquela idéia de “temos que mudar e vamos mudar”. Falta ânimo e algo, ou alguém, que tenha a capacidade de tirar os votantes do cinismo e da indiferença. Algum candidato?