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Copa do Mundo 2014: um negócio lucrativo

Julia Vieira

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“O país que produziu os melhores jogadores da história e conquistou cinco campeonatos mundiais, terá o direito, mas também a responsabilidade, de sediar a Copa do Mundo de 2014”, discursou o presidente da Federação Internacional de Futebol Associação (Fifa), Joseph Blatter, na sede da Organização, em Zurique, Suíça. Após mais de 6 décadas na expectativa o Brasil voltará a sediar a Copa, o segundo maior evento esportivo em âmbito mundial.

Seguindo um rodízio estipulado pela Fifa, a Copa deveria ser realizada em um país do continente americano, o que aumentava bastante as chances do Brasil. Outros países tiveram chances de receber o evento, mas não participaram da disputa e apoiaram o Brasil, que com candidatura única, tinha  o desafio  de vencer as próprias dificuldades. No dia 30 de outubro, foi feito o anúncio de que a Copa do Mundo será novamente na “pátria das chuteiras”, o que levou à comemoração de muitos e ao descontentamento de outros.

Fugindo do lugar comum das celebrações circulantes na grande imprensa, o Olhar Virtual entrevistou o professor Carlos Vainer do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) para descobrir suas expectativas acerca do evento.

“Todas as experiências anteriores tiveram um saldo final negativo, a começar pelo Pan do Rio. Eventos desse porte são ditos autofinanciáveis, mas acabam gastando quantias exorbitantes de dinheiro público”, lembrou o professor ao tentar definir um panorama de suas expectativas para o Mundial de 2014.

No projeto apresentado para a candidatura, 12 arenas esportivas serão reformadas e 4 construídas. O presidente Lula afirmou que os estádios serão de responsabilidade da iniciativa privada, que investirá nessas construções e reformas, mantendo-os ligados às suas empresas. Vainer ressaltou que no Brasil as parcerias público-privadas funcionam sempre da mesma maneira: “O público entra com os custos e o privado sai com os lucros”.

Para sediar a Copa, o Brasil vai investir cerca de R$ 4 bilhões, em diversas áreas como transporte, tecnologia e hotelaria. Os favoráveis à realização do Mundial acreditam que além de toda a visibilidade recebida, o país poderá crescer econômica e socialmente. Mas Vainer critica: “Temos carência em diversos setores sociais e considero que estes sejam investimentos perdidos. Ao contrário do que muitos pensam, eles não serão revertidos em desenvolvimento social, e sim canalizados para a indústria do esporte e outros setores, como a construção civil”.

Outra importante discussão é quanto à qualidade do evento a ser realizado. Enquanto alguns ainda duvidam da competência brasileira para organizar um evento deste porte, Vainer cita o Carnaval carioca como prova da capacidade de realização de eventos grandiosos e bem-sucedidos, mas salienta: “o problema não é organizar, é quem vai se apropriar do capital. Não podemos dar muito crédito a um projeto que tem à frente um presidente, doze governadores e dois ministros”.

Carlos Vainer criticou o fato de a Copa do Mundo não ser realizada no Brasil para congraçar os povos, mas para realizar um grande negócio, que levará verbas públicas para os bolsos errados. “O Mundial será balizado por interesses empresariais e disputas de prestígio político. Considero um escândalo ter recursos deste porte voltados para este tipo de projeto”, finalizou.