Cada censo realizado revela aos brasileiros estatísticas reveladoras de uma face até então desconhecida de nosso país. Novos números dão conta de que, em 2006, as populações preta e parda alcançaram cerca de 49,5% do total de pessoas, aproximando-se dos 49,7% da população branca. Situação parecida não ocorria desde o final do século XIX, quando 66% dos brasileiros eram pretos e pardos. Após um período sem registros, em 1940 foi realizada uma nova contagem, e nesta os brancos já eram maioria, sendo pretos e pardos apenas 34% do total da população. Entretanto, somente 6,9% das pessoas se autodeclaram pretas.
Em relação à utilização das nomenclaturas “pretos” e “pardos” na divulgação dos resultados da pesquisa, Marcelo Paixão, professor do Instituto de Economia (IE/UFRJ) especialista em questões raciais, diz que o uso é totalmente correto. “Tanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quanto os movimentos raciais utilizam essa terminologia. No censo, o IBGE pergunta às pessoas se elas se consideram ‘brancas’, ‘pretas’, ‘amarelas’, ‘pardas’ ou ‘indígenas’. A mídia fez uma confusão dos termos e começou a usar ‘negro’ no lugar de ‘preto’, sendo que ‘negro’ é considerado a mistura entre preto e pardo”, sinaliza.
No entanto, Paixão não acredita em uma palavra carregar um sentido mais negativo ou preconceituoso que outra. Para o professor, o preconceito é uma questão política e não se restringe à utilização de ‘negro’ ou ‘preto’.
“Se uma pessoa for preconceituosa, vai ofender com qualquer palavra que utilize. O vocabulário é o que menos importa, até porque essa é uma questão muito relativa. Nos Estados Unidos, o movimento de defesa dos pretos é o movimento black, e nigger tem um caráter mais pejorativo. Analisar o emprego desses termos na mídia é mais complicado, depende do veículo e da linha editorial, mas é evidente que a presença de pretos e pardos nos meios de comunicação é muito pequena ainda”.
O economista ressalta a diferenciação entre “cor” e “raça”. “Cor é um conceito baseado na aparência. Raça é uma idéia de caráter biológico, mas hoje já é ultrapassada. Na verdade, as pessoas são classificadas de acordo com seus aspectos visuais, como tonalidade de pele e tipo de cabelo, por exemplo.”
O professor também destaca: hoje, as pessoas se reconhecem como pretas ou pardas mais facilmente. Embora muitos autores importantes e movimentos sociais lutem pela igualdade de direitos para todos os cidadãos, ainda é possível perceber na sociedade traços de tentativas de “europeizar” a população. “Prova disso é que os galãs de nossas novelas são sempre brancos”, finaliza Marcelo Paixão.