Ponto de Vista

O erro dos novos mecenas

Aline Durães

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O mecenato ganhou força durante o Renascimento, movimento cultural presente na Europa do século XIV ao XVI, em virtude dos constantes incentivos financeiros dados às atividades artísticas e literárias da época. Os mecenas, que eram, em sua maioria, burgueses ricos e representantes do alto clero, notabilizaram-se por contribuir decisivamente para o desenvolvimento das artes em geral na região.

Reeditado, hoje o termo refere-se, no Brasil, a todo e qualquer apoio dado a iniciativas, sejam elas culturais, artísticas, científicas ou esportivas. No caso específico da Cultura, o mecenato brasileiro exprime-se, principalmente, através do Fundo Nacional da Cultura (FNC), reserva constituída de recursos do Tesouro Nacional destinados ao patrocínio de projetos culturais públicos ou particulares.

Desde 1991, com a aprovação da Lei Rouanet (Lei nº. 8.313/91), o apoio à Cultura tornou-se atraente também para a iniciativa privada, isso porque essa lei permite o abatimento de até 4% no imposto de renda das empresas patrocinadoras e a utilização de até 25% dos produtos culturais para a divulgação e promoção do nome do patrocinador. Embora passem pelo crivo do Ministério da Cultura (MinC), as verbas não provêm do governo, o que possibilita maior proximidade entre artistas e investidores.

Os nove milhões de reais cedidos, dentro das exigências da Lei Rouanet, para as apresentações do Cirque du Soleil - companhia canadense de circo – no Brasil, em dezembro, reacenderam as discussões em torno da eficácia das normas brasileiras de incentivos culturais. As principais críticas residem no fato de que os projetos populares de repercussão nacional recebem maior atenção em detrimento das iniciativas regionais e eruditas.

O Olhar Virtual convidou Florentino Dias, ex-professor da Escola de Música da UFRJ, para comentar essa questão. Atualmente, Florentino preside a Orquestra Filarmônica do Rio de Janeiro, entidade sem fins lucrativos, criada há cerca de 30 anos, que, hoje, sofre com a falta de patrocínio público e privado. Confira abaixo as opiniões do maestro.

"A mentalidade dos brasileiros é distinta dos demais países no que diz respeito aos incentivos culturais. Isso fica ainda mais claro quando os projetos são ligados à música clássica. Isso não significa que, aqui, não existam homens e mulheres cultos, interessados no desenvolvimento de orquestras, mas há uma parcela muito grande da população que pouco presta atenção à música erudita.

A falta de iniciativas de patrocínio a projetos eruditos está relacionada, em parte, à resposta do público. Mas temos que observar que o público não responde porque o tipo de cultura que é entregue a ele é uma cultura de baixo nível. A qualidade, com raras exceções, é questionável. Raramente se vê um concerto ser televisionado. Não temos orquestras fazendo concertos em escolas, o que, sem dúvida, poderia contribuir muito para a formação musical da criança.

A mídia tem sua parte de culpa nesse processo. A cultura musical que a televisão coloca diariamente para os brasileiros é, infelizmente, de baixa qualidade. A mídia prefere dar espaço para a violência. Já houve casos absurdos como o de uma rede de TV que se comprometeu a cobrir um evento da Orquestra Filarmônica do Rio de Janeiro, mas desistiu, minutos antes da apresentação, para cobrir o julgamento de um bandido.

A falta de informação é um outro problema no que concerne ao patrocínio de orquestras. Algumas empresas financiam apenas iniciativas musicais ligadas ao governo por desconhecerem os projetos privados. A filarmônica brasileira, por exemplo, é bancada pelo governo, mas recebe grande apoio dos empresários. Eles deveriam prestar mais atenção às demais orquestras independentes. "