Resenha

O poder das bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente

Por Francisco Conte

capa do livro

Do papiro aos acervos digitais, dos arquivos de palácios luxuosos às bases de dados acessíveis em tempo real na Internet, do texto ao hipertexto e do vocábulo à imagem a trajetória das bibliotecas se confunde em larga medida com a aventura da cultura e do pensamento do Ocidente. Elas se constroem, por assim dizer, nas fronteiras sinuosas demarcadas pelo confronto entre um projeto utópico cujo desejo parece ser o de abarcar em um único lugar a totalidade dos conhecimentos humanos e o desânimo que nasce de as técnicas bibliográficas disponíveis em dado momento histórico insistirem em impor limites a essa ambição. Ao mesmo tempo, lugar e instituição, realidade sensível e espaço mítico, arquitetura e imaginário, toda biblioteca propõe, assim, um certo paradoxo, cujo paradigma já estava presente na de Alexandria: o de pretender construir um canto do mundo capaz de contê-lo.

As bibliotecas não são, portanto, apenas edifícios imponentes, já que o domínio da memória escrita não deixa de ter significado político. Elas vão muito além: denunciam implicitamente as representações que dada sociedade faz de si mesma, e, ao mesmo tempo, (dis)simulam uma concepção de cultura, de saber e de memória que as convertem em espaços privilegiados para que um rico diálogo entre o presente e o passado teça os limites da tradição.

Embora não seja propriamente uma história dessas instituições milenares, O poder das bibliotecas desenvolve, a partir de diversos pontos de vistas, e com base em diferentes abordagens, um rico painel das práticas de leitura erudita e do papel que elas assumiram na transmissão das heranças intelectuais do Ocidente.

Ao todo são 14 artigos apresentados no importante colóquio “Alexandria ou a memória do saber” realizado em 1993 pelo Établissement Public de la Bibliothèque de France sob a direção científica de Marc Baratin, professor da Universidade Lille III, e Christian Jacob, pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), e que são responsáveis também pela organização do volume. A publicação da tradução contou com o apoio do Ministério das Relações Exteriores da França, da Embaixada do Brasil naquele país e da Maison Française do Rio de Janeiro.

Autor: Marc Baratin e Christian Jacob (direção)

Editora: UFRJ

Ano: 2006