• Edição 252
  • 02 de junho de 2009

No Foco

Curso noturno na Letras

Júlia Faria


A Faculdade de Letras (FL/UFRJ) pode ganhar um curso noturno de graduação. A proposta da licenciatura em Letras com habilitação em Português-Literaturas no horário da noite já recebeu apoio da Reitoria e tramita agora no Conselho de Ensino de Graduação (CEG), que decidirá se a opção de curso já entra no próximo vestibular da UFRJ. A expectativa é de que sejam criadas 60 vagas, sendo 30 para cada semestre. A graduação noturna deve contemplar todas as disciplinas oferecidas na diurna. Por isso, o período mínimo de formação se estende para cinco anos.

Segundo Ronaldo Lima Lins, diretor da FL, há uma reivindicação latente na instituição, além de demanda da sociedade, por um curso noturno na Letras. “Nossos alunos são normalmente muito desprivilegiados do ponto de vista econômico. Temos muitos alunos aqui com dificuldades de estudar no curso diurno porque têm que trabalhar. A alternativa deles é fazer o curso devagar, dedicando-se a ele menos do que seria necessário”, afirma Ronaldo. Implantar um curso no horário da noite atende, portanto, ao princípio de democratização da universidade.

O projeto da graduação noturna da Faculdade de Letras sempre foi uma das propostas da atual direção. Em novembro de 2008, a ideia foi aprovada na Congregação, porém ainda havia alguma resistência, sobretudo do corpo docente. Por isso, no mesmo mês, o projeto retornou aos departamentos para que fosse então rediscutido. Já em abril deste ano, em outra Congregação, o projeto ganhou por 15 votos a 7. Ronaldo Lima Lins esclarece que era esperado que não houvesse consenso. Devido a isso, buscou-se a discussão democrática. “Sabíamos que essa discussão seria levada adiante com lentidão. Também não queríamos atropelar a vontade das pessoas, nem fazer um curso sem as condições necessárias. Porém, acredito que a vitória na Congregação foi expressiva”, diz o docente.

Para Dau Bastos, professor da Faculdade de Letras, o curso noturno é de extrema importância, pois amplia o número de vagas ofertadas a estudantes, bem como o rol de doutores concursados em Letras. Além disso, ocorrerá o uso otimizado das instalações do prédio da FL. “Em vez da melancolia que se instala no início da tarde – quando as aulas terminam –, teremos vida e produção ao longo de toda a jornada. Se pensarmos na relação custo/benefício, vemos que, como os altos investimentos em instalações e outras necessidades já foram feitos, os gastos com o curso noturno são ínfimos se comparados ao ganho social e institucional de multiplicarmos o número de pessoas formadas em Letras. Em síntese, o curso noturno só trará benefícios à comunidade acadêmica.”

Passos para implementação do projeto

Para a concretização do projeto é preciso pensar na infraestrutura, o que contempla a necessidade de contratação de professores e servidores públicos. De acordo com o reitor Aloísio Teixeira, a intenção da Reitoria é possibilitar que o curso se torne realidade. “Assumimos um compromisso com a questão dos professores, funcionários técnico-administrativos e infraestrutura, pois viabilizar a implantação do curso noturno na Letras vem ao encontro do projeto de manter a universidade aberta a todos e propiciando o ingresso de alunos de diferentes condições socioeconômicas”, declarou Aloísio em audiência pública com integrantes da Faculdade de Letras no último dia 20 de maio.

De acordo com o projeto, a demanda por professores e funcionários no horário da noite implica a contratação de aproximadamente 19 docentes e 18 funcionários técnico-administrativos. A necessidade ocorre em função do compromisso de a graduação noturna ter a mesma qualidade de ensino dos cursos diurnos. O diretor Ronaldo Lima Lins enfatiza que o projeto pretende dar mais oportunidade a quem precisa trabalhar durante o dia, sem, no entanto, abrir mão do principal, que é a preocupação com o conhecimento. “A ideia não é produzir diplomas irresponsavelmente. Por isso mesmo, à medida que o projeto foi sendo amadurecido, ficou claro que queríamos um curso com a mesma qualidade do diurno. Portanto, com currículo idêntico”, declara o professor. Nesse sentido, o período mínimo de formação se estende, então, de quatro para cinco anos, já que à noite o horário para aulas é menor.

Dau Bastos acredita que há condições para que a opção de graduação no horário da noite possa ser oferecida no vestibular 2010. Segundo ele, a FL discutiu amplamente a proposta e fez tudo o que era de sua alçada para viabilizar o projeto. A necessidade de abertura de concursos, além de melhorias na área de transporte, alimentação e segurança, já foi identificada e fica a cargo da Reitoria, das Pró-reitorias e da Prefeitura da Cidade Universitária. “Os dez meses que nos separam do início do primeiro semestre de 2010 são tempo mais que suficiente para se tomarem as providências que ainda se fazem necessárias. Adiar a implantação de uma ideia que chegou a este nível de amadurecimento e tem condições favoráveis de implantação é desgastá-la, com o risco de enterrá-la. Se a implantação de qualquer projeto educacional em nossa pobre nação é sempre complicada, adiar o curso noturno chega a ser uma irresponsabilidade”, desabafa o professor.