• Edição 234
  • 16 de dezembro de 2008

De Olho na Mídia

O medo do desconhecido na mídia

Lorena Ferraz

imagem ponto de vista

O engenheiro e empresário sul-africano, William Charles Erasmus, que estava internado na Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio, morreu, no dia 2 de dezembro, devido a uma febre hemorrágica de causa até então desconhecida. Erasmus chegou ao Rio em 23 de novembro para dar uma palestra e foi internado no dia 29 com febre alta, dor de cabeça e mal-estar.

O Ministério da Saúde suspeitava que o empresário tivesse sido infectado por um arenavírus, durante uma cirurgia ortopédica em um hospital em Johannesburgo, na África do Sul, onde quatro pessoas morreram da doença. Médicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizaram diversos exames a partir de amostras de sangue do paciente para descobrir a causa de sua morte. Em um primeiro momento, foram descartados os diagnósticos de dengue, malária e ebola.

A morte do estrangeiro teve grande repercussão na mídia, que cobriu diversos aspectos do caso, como a dificuldade na apuração da causa do óbito e os processos que envolveram a cremação do corpo. Para o infectologista Roberto Medronho, do departamento de Medicina Preventiva da UFRJ, a mídia fez uma cobertura satisfatória sobre o caso.

— Os profissionais da área de Comunicação cumpriram seu papel informativo de maneira correta e adequada. Digo isso porque muitos jornalistas entraram em contato comigo para checar as informações antes de veiculá-las nos meios de Comunicação — afirma o professor.

Além disso, segundo Medronho, a mídia denunciou as possíveis irregularidades do caso, como o transporte inadequado do corpo feito por funcionários da Casa de Saúde São José.

Em casos como esse, onde existe a possibilidade, mesmo que remota, de uma epidemia, é possível que parte da mídia assuma uma postura sensacionalista. Sobre essa questão, o professor esclarece que, dependendo da forma como uma notícia é escrita, ela poderá ter ou não um tom escatológico. “Uma matéria onde se diz que 75 pessoas podem estar infectadas é sensacionalista, já outra onde se lê que 75 pessoas estão sendo monitoradas por profissionais da área médica é simplesmente informativa”, completa Medronho.

Entendendo a causa da morte

Depois de muitas especulações, a Fiocruz declarou no domingo, 7 de dezembro, que o engenheiro sul-africano morreu de febre hemorrágica provocada pela bactéria rickettiose e não pelo arenavírus, como vinha sendo dito. A rickettiose, mais conhecida como febre maculosa, é transmitida por carrapatos e não passa de pessoa para pessoa. Por isso, o Ministério da Saúde liberou do monitoramento todos que tiveram contato com William.

A febre maculosa é uma doença comum no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, só em 2008 já foram registrados 30 casos no país. Mas em entrevista concedida ao RJTV o infectologista Edimílson Migowski, professor de Infectologia Pediátrica da UFRJ, afirmou que o sul-africano já estava infectado quando chegou ao Brasil. Migowski alega não haver tempo hábil para que o africano tenha contraído a doença aqui, já que os sintomas apareceram dois dias após sua chegada ao país.

Já para Medronho, “o laudo sobre a causa da morte de Erasmus foi tranqüilizante, pois uma vez descartada a possibilidade de infecção por arenavírus, os profissionais que atenderam ao paciente não correm mais o risco de adoecer”.