• Edição 223
  • 30 de setembro de 2008

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A bandeira da Feira com a arte da EBA

Raquel Gonzalez

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O Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, mais conhecido como Feira de São Cristóvão, ganhou um novo símbolo para comemorar seus 63 anos de história: uma bandeira. O vencedor do concurso promovido para elegê-la foi Luís Henrique Pereira de Almeida, licenciado pela Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ e freqüentador da Feira. “Entrar para a história artística cultural do Rio é muito significativo para mim”, declara Luis acerca da vitória.

Luís Henrique admira a cultura nordestina e freqüenta a Feira de São Cristóvão há tempos. Formado em Desenho e estudando Artes Plásticas na EBA, dá aulas também de Desenho Geométrico e Artes a estudantes dos ensinos Fundamental e Médio. Segundo ele, poder diminuir a distância existente entre a arte que leciona e a que é produzida foi outro grande prêmio. “É difícil mostrar aos meus alunos a arte que está sendo exposta em Nova York ou mesmo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Mesmo que eu os leve, é um mundo ainda muito distante. Agora é como se a arte se materializasse para eles. Estou muito feliz por isso também”.

Apesar de visitar freqüentemente a Feira, Luís soube do concurso através de uma propaganda veiculada na mídia e decidiu participar por sua afinidade com a cultura do Nordeste. Com o lema Centro Luiz Gonzaga de tradições nordestinas, o nordeste é aqui, construiu seu projeto pensando em retratar o conjunto de tradições nordestinas dentro do Estado do Rio de Janeiro — o que a feira, na verdade, representa. Luis explica que, em suas primeiras tentativas, utilizou elementos artesanais, musicais e alimentícios nordestinos para simbolizar a região. A imagem, entretanto, ficou poluída visualmente. Ele, então, resolveu utilizar as bandeiras referentes aos estados do Nordeste já que a bandeira remete ao conjunto de um lugar: tradições, paisagens, cultura. Luís Henrique afirma que não esperava vencer e compareceu à premiação apenas por espírito esportivo. A vitória chegou com muita surpresa e emoção e significou, para ele, a marca de seu nome na história. “Quando recebi o resultado, fiquei muito emocionado. E pensei: agora estou na história! Eu lutei por isso, mas não imaginava que viria tão cedo”.

O prêmio recebido foi uma placa com seu nome na entrada da feira e, de acordo com Luís, se a premiação fosse em dinheiro, apenas, não participaria do concurso. Ele fez uma declaração recente à imprensa afirmando que receber esse prêmio foi melhor que ganhar na loteria e ratifica: “acredito fielmente nisso. Acho que, para as pessoas que trabalham com arte, o dinheiro não é mais importante que reconhecimento. O prêmio, para mim, é muito grande. Daqui a cem anos não estarei mais aqui, mas estará lá a bandeira e a placa com meu nome”, afirma.

— O fato de um estudante, já com uma titulação, apresentar seu trabalho na Feira de São Cristóvão, centro de tradição popular e cultural de nossos irmãos nordestinos, é de grande mérito para a EBA e a para a UFRJ. Luís Henrique apresentou sua obra para ser avaliada por um júri popular, ou seja, ele teve plena consciência que o projeto que realizara para a Feira de São Cristóvão ganhava legitimidade ao ser julgado pelo próprio povo que freqüenta o local. Como conseqüência, ele confirma que a arte não é uma escolha das elites, mas um caso da alma, da sensibilidade e capacidade de juízo crítico, independente da erudição e da estatura cultural de cada grupo — declara Ângela Âncora Luz, diretora da Escola de Belas Artes, acerca da articulação da EBA com uma produção de cultura popular.

Luís Henrique afirma, por fim, que ficou muito feliz com a repercussão que sua vitória teve na EBA e que ser reconhecido no local onde estudou é um segundo prêmio para ele.