• Edição 210
  • 01 de julho de 2008

Entrelinhas

Entre palácios e pavilhões

Júlia Faria

capa do livro

O ano de 1908 marcou o centenário da abertura dos portos brasileiros às nações amigas e, conseqüentemente, da vinda da Real Família Portuguesa para o Brasil. Em comemoração à data, elaborou-se a Exposição Nacional de 1908 que reunia uma série de grandes construções que almejavam atribuir ao Rio de Janeiro a imagem de uma capital moderna.

Cem anos depois, a EBA Publicações lança o livro Entre palácios e pavilhões – a arquitetura efêmera da Exposição Nacional de 1908, de Ruth Levy, uma obra que rememora a importância arquitetônica dos prédios que, embora com uma existência transitória, foram fundamentais para revelar importantes aspectos da História carioca.

Em entrevista ao Olhar Virtual, Ruth Levy, doutora e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ), fala um pouco mais sobre o livro e a Exposição Nacional de 1908.

Olhar Virtual: Onde se originou a idéia para o livro?

Entre palácios e pavilhões resulta da minha dissertação de mestrado que trata da Exposição Nacional de 1908, mas que, para contextualizar e melhor compreender o fenômeno das exposições cariocas, resgata também as Exposições Universais da segunda metade do século XIX. No período em fiz mestrado na Escola de Belas Artes, queria trabalhar com o ecletismo e a arquitetura de exposições, pois era um tema que me interessava especialmente. Afinal, ainda que em um curto período e em um espaço delimitado, as exposições faziam surgir uma série incrível de exemplares arquitetônicos, sendo assim um campo fértil para estudo.

Olhar Virtual: Como foi desenvolver a pesquisa?

Como o material, tanto textual quanto iconográfico, é rico e fascinante, realizei esta pesquisa sempre com muito entusiasmo. Inicialmente, para melhor compreender o universo das exposições, seu projeto conceitual e sua produção arquitetônica, foram tomadas como referências às Exposições Universais européias e norte-americanas da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Nesta etapa, a bibliografia estrangeira sobre o assunto foi a principal fonte. Em seguida, as pesquisas concentraram-se em bibliotecas e arquivos em busca do material sobre a Exposição de 1908 propriamente dita.

Olhar Virtual: Qual a importância histórico-cultural do livro?

Entre palácios e pavilhões resgata uma passagem importante da história carioca, que pode ser entendida com ponto culminante de um processo de modernização que o país viveu ao longo do século XIX. Na cidade do Rio de Janeiro, tal processo se mostrou de forma peculiar através das obras de reurbanização e dos trabalhos de saneamento implementados durante o governo de Pereira Passos. Ao contrário destas intervenções, que já têm sido tema de extensas pesquisas, a Exposição de 1908 foi pouco estudada, e este livro traz ao público um farto material que ajuda, justamente, no entendimento da história da cidade no início do século XX e de sua inserção no contexto nacional.

Olhar Virtual: Qual a importância, para a história da Arquitetura, de rememorar a Exposição Nacional de 1908?

A Exposição Nacional de 1908 é tomada como cenário privilegiado para o estudo da arquitetura carioca do ecletismo. A idéia da exposição surgiu na imprensa da época e de uma sugestão da Associação Comercial e para ela, foi produzida uma série de prédios, encomendados a engenheiros e arquitetos de projeção. Essas construções foram demolidas cerca de três meses depois. Porém, a efemeridade de tal arquitetura não suprimiu o debate em torno de questões importantes para aquele momento. Assim, a exposição oferece um repertório de formas, estilos e tipologias que muito enriquece a análise histórica e crítica da produção arquitetônica do período.

Olhar Virtual: Apesar da maioria dos prédios construídos para o evento ter sido destruída, ainda hoje se tem registro de algum remanescente?

Dos mais de 20 pavilhões construídos para a Exposição, a maior parte foi demolida logo depois ou ao longo dos anos seguintes, tendo ficado apenas os registros iconográficos e os relatos textuais. Apenas duas edificações chegaram aos nossos dias. O mais importante é o Palácio dos Estados, que foi instalado em um prédio cuja estrutura já existia antes da exposição e que foi terminado especialmente para ser o seu principal pavilhão. Este edifício abriga hoje o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). O outro prédio que resistiu a esses cem anos foi o Pavilhão das Máquinas, que fica atrás do prédio do DNPM e hoje é ocupado pela Escola de Teatro da UNIRIO. Já o Pavilhão de Minas Gerais foi bastante modificado, abrigando, entre 1922 e 1932, uma escola para excepcionais e, a partir de 1933, uma escola primária que tem o nome de Escola Municipal Minas Gerais. No entanto, não é mais possível reconhecer ali as características originais do pavilhão.

Olhar Virtual: Neste ano, tivemos a comemoração dos 200 anos da vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil e, conseqüentemente, o centenário da Exposição Nacional de 1908. O lançamento do livro participa dessas comemorações?

Sim, a edição do livro coincide com as comemorações dos 200 anos da vinda da Família Real e não por acaso. A Exposição da Praia Vermelha celebrava justamente o Centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, relembrando assim a chegada de D. João VI e da Corte Portuguesa ao Brasil, além do salto de modernização que isso representou para o país e sua capital.