• Edição 190
  • 22 de janeiro de 2008

Entrelinhas

Uma breve história dos salões de arte, da Europa ao Brasil

Camilla Muniz

capa do livro

Em outubro de 2005, foi publicada a primeira edição de “Uma Breve História dos Salões de Arte - da Europa ao Brasil”, livro de Ângela Âncora da Luz, diretora da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ. Este mês, a obra premiada, em março de 2006, teve seu relançamento motivado pelo sucesso da 1ª Coletiva Bienal da Escola de Belas Artes — evento que objetiva expor a produção artística dos alunos da EBA. O livro narra a trajetória mundial dos salões de arte a partir de seu surgimento na Europa, durante a Renascença. Analisando as manifestações artísticas brasileiras desde a chegada dos salões no Brasil até o fim desse modelo nos anos 90, Ângela traça um panorama da arte nacional, apresentando o Rio de Janeiro como um importante pólo difusor das artes no país.

Em entrevista ao Olhar Virtual, a autora conta detalhes do processo de produção do livro e fala sobre os esforços da EBA em prol da criação de um curso de graduação em História da Arte.

Olhar Virtual: Quando este livrofoi publicado e por que relançá-lo?

Ângela Âncora da Luz: "Uma Breve História dos Salões de Arte - da Europa ao Brasil" publicado em outubro de 2005, recebeu o prêmio Sérgio Milliet da Associação Brasileira de Críticos de Arte em março de 2006. A idéia do relançamento se deu através dos organizadores da 1ª Coletiva Bienal da Escola de Belas Artes, cuja abertura aconteceu em 14 de dezembro de 2007 no Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho (Castelinho do Flamengo). A Bienal da Escola de Belas Artes já foi prorrogada até final de fevereiro, pois vem recebendo boa acolhida do público, inclusive nas mesas redondas acontecidas. Como se tratava de uma Bienal — mostra que apresenta a produção artística da Escola de Belas Artes nos últimos dois anos —, eu e o professor Adir Botelho, autor de Canudos, que havíamos publicado dentro deste último biênio, recebemos o convite da professora Ísis Braga e do Coordenador de Extensão do CLA, José Mauro Albino, pois nossos livros tratavam de assuntos correlatos à Bienal, quer pela própria criação artística, no caso do Adir, quer na história de salões e exposições oficiais da arte brasileira.

Olhar Virtual: Qual a abordagem específica do livro e quais os principais aspectos analisados?

Ângela Âncora da Luz: O livro narra, sinteticamente, a origem dos salões de arte, desde a primeira exposição que se tem conhecimento, organizada por Vasari, no Renascimento; sua difusão na Itália, sua grande força na França; através da Academia e como, a partir da Missão Artística Francesa, este modelo chega ao Brasil e se confirma na forma das Exposições Gerais; a partir de 1840 e dos Salões; depois da República e já no século XX. A breve história vai informando os principais passos desta trajetória no Salão Nacional de Belas Artes. Apresenta as discussões do Salão Revolucionário de 31, da Divisão Moderna, em 1940, da criação do Salão Nacional de Arte Moderna, em 1951, e do novo modelo do Salão Nacional de Artes Plásticas resultado da fusão do Salão Nacional de Belas Artes e do Salão Nacional de Arte Moderna, da FUNARTE, observando as questões ligadas à arte durante os governos militares, desenvolvendo o percurso dos salões até culminar com o seu declínio e fim na década de 1990. Com isto, o panorama da arte brasileira é apresentado, revelando a significação do Rio de Janeiro como pólo difusor das artes no Brasil.

Olhar Virtual: Como foi o processo de pesquisa e redação do livro? Ele é direcionado a um público especial ou pode ser lido por qualquer pessoa que se interesse por arte?

Ângela Âncora da Luz: Em meu doutoramento pesquisei os salões, mas tive como objeto a tensão da modernidade na década de 1950 e a importância dos salões oficiais na mesma década. Fiz uma pesquisa alentada, contando com bolsistas que me ajudavam a levantar o material que precisava, sobretudo nas colunas de críticos especializados, que escreviam diariamente em todos os principais jornais em circulação. Muito material não pôde ser usado, por força de manter meu objeto específico. Assim, quando fui contatada pela Editora Caligrama para escrever sobre o assunto, resgatei este material que já estava se "apagando", pois as antigas cópias xerox não fixavam a impressão por muito tempo. O livro é de fácil leitura, apesar de não perder em profundidade, mas procura atrair o leitor de qualquer escolaridade, desde que se interesse pela arte.

Olhar Virtual: Quais foram as principais características da arte européia que influenciaram a produção artística brasileira?

Ângela Âncora da Luz: Sem dúvida alguma foram as vanguardas históricas, com destaque para o expressionismo e o cubismo. A arte brasileira tem uma índole expressionista muito forte, o que se confirma através da Gravura Brasileira, assunto já amplamente discutido. Os aspectos cubistas que impulsionaram as tendências construtivas foram também fundamentais para a arte brasileira, como se observa no concretismo e neoconcretismo na década de 1950.

Olhar Virtual: O relançamento de "Uma Breve História dos Salões de Arte - da Europa ao Brasil" dá novo fôlego às expectativas de criação de um curso de graduação em História da Arte pela EBA?

Ângela Âncora da Luz: Não posso afirmar que o livro trouxe novo fôlego, porque o curso de graduação em História da Arte deverá se tornar realidade ainda neste semestre, uma vez que vem sendo elaborado por um grupo de professores do departamento de História e Teoria da Arte, mas que está se tornando possível pela eficiência do trabalho da chefe do Departamento BAH - professora Helenise Guimarães, que preside os trabalhos. Contudo, toda a produção que, efetivamente, se volta para a História da Arte resulta num incentivo e numa disposição maior para se levar à frente os objetivos do curso. Eu mesma, junto com as professoras Sônia Gomes Pereira e Myriam Ribeiro, tendo a última como organizadora, iremos lançar um livro de síntese da História da Arte, que deverá ser publicado, em breve, pela Editora da UFRJ, buscando atender a expectativa de estudiosos que enveredam nesta área, e, desta forma, voltado para os futuros novos estudantes do curso. Todos estes esforços se somam ao que objetivamos.