• Edição 177
  • 25 de setembro de 2007

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Preservação do Patrimônio Cultural

Nathália Perdomo

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Igrejas, fazendas, rochedos, belezas arquitetônicas e naturais ganham um cuidado especial nas mãos de uma equipe coordenada pela professora Maria Clara Amado Martins, chefe do Departamento de História e Teoria (DHT), em seu Núcleo de Estudos de Arquitetura Colonial.

Idealizado em 2006, pelo professor do DHT Olínio Gomes Coelho, ex-Chefe do Serviço de Tombamento e Proteção da Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio de Janeiro, o projeto de extensão visa promover uma consciência cultural e social na população dos municípios do estado do Rio de Janeiro, além de estimular estudantes de Arquitetura e Urbanismo, através de seminários acerca da importância da preservação do patrimônio. O programa articula-se com as prefeituras municipais, trazendo sempre à frente um conhecedor do assunto para contar a história de uma determinada região.

Ano passado o grupo visitou diversas cidades, entre elas São Pedro d’Aldeia, Petrópolis e Iguaba Grande. Esta última possui uma capela do século XVIII, tombada pelo Estado e uma pedra de salga, onde os escravos secavam sal; ambas causaram admiração da equipe. Após a visitação, a prefeitura começou a captar recursos, estimados em 300 mil reais, para restauração da capela. “A mobilização em prol do bem público é nosso retorno, afinal, não basta tombar, é necessário preservar” — comenta a professora.

O município de Quissamã também foi visitado e teve uma grande adesão da população. “O município possui reservas como o Parque Nacional de Jurubatiba, o maior parque de restinga do Brasil, e fazendas em ruínas que precisam ser protegidas e consolidadas. São patrimônios que não podem ser esquecidos, não podem ser abandonados” — alerta professora.

No último final de semana, o seminário chegou à região do vale do café: Vassouras, onde grande parte dos bens culturais é tombada, conservada e aberta à visitação. Dessa forma, cerca de 70 alunos tiveram contato com verdadeiros patrimônios, definidos por Maria Clara como tudo aquilo que remete algum valor a alguém, sob o aspecto arquitetônico, histórico ou social. Quando esse valor ganha uma dimensão para além do indivíduo e torna-se de interesse coletivo, da sociedade, a construção passa a ser alvo de tombamento pelo município, podendo despertar o interesse de instituições estaduais e federais. “No Rio de Janeiro, restou uma estação de bonde puxado a burro, transporte comumente utilizado no século XVIII. O prédio, em si, não possui grande valor, mas o momento histórico superou qualquer estabelecimento de preço e fez com que aquele espaço fosse tombado e preservado” — explica.

O professor Olínio que também exerceu a função de Conselheiro do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural da Cidade do Rio de Janeiro recorre sempre à idéia do aproveitamento do espaço a ser tombado já que a degradação de construções pode ser atribuída à falta de uso. “Como dizia Aristóteles, só se ama o que se conhece. Portanto, o objetivo é apresentar os espaços para a população sob uma outra ótica e pensar em alternativas para aproveitá-los da melhor maneira” — reflete.

Camila Cristina Oliveira, estudante do 9º período de Arquitetura e Urbanismo também participa do projeto e garante que a experiência tem contribuído muito para a sua formação. “Temos a possibilidade de aplicar o que nos é ensinado na faculdade e vivenciar o cotidiano das cidades que mantêm a preservação das raízes do nosso passado”.

Para ela, o ideal seria que os seminários fossem complementados com cursos extracurriculares, em que os alunos pudessem receber aulas práticas mesmo na área de conservação e restauração. “Com isso, o programa assumiria um caráter mais didático, nos incentivando a acompanhar o trabalho de preservação do patrimônio nacional e nos capacitando nesta disciplina, para podermos analisar, criticar e contribuir para o desenvolvimento da valorização da história do nosso país” — argumenta.

A estudante pretende levar o trabalho adiante em seu projeto de final de curso, propondo uma revitalização da fazenda Machadinha, em Quissamã, habitada e preservada por uma comunidade de descendentes de escravos. “Gostaria que a minha proposta contribuísse para integração desta comunidade com toda a cidade, por meio da utilização pública de um espaço degradado pelo tempo, mas mantido pelo seu valor histórico, incentivando as pessoas a gostar e a cultivar este núcleo vivo de preservação da cultura brasileira, agregando-o a um programa de assistência”.

A atividade do núcleo de estudos está ganhando visibilidade e elogios de alunos e entidades com preocupação ambiental. Com o apoio da Universidade e do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia — CREA RJ, pelo programa PROGREDIR, o projeto tende a prosperar, contando com um número de colaboradores e interessados cada vez maior.

As inscrições para o programa estão abertas aos estudantes e à comunidade da UFRJ, no DHT, prédio da Reitoria, sala 416, ou pelo telefone 2598-1660.