• Edição 176
  • 18 de setembro de 2007

De Olho na Mídia

Diversidade de cores

Camilla Muniz

imagem ponto de vista

Cada censo realizado revela aos brasileiros estatísticas reveladoras de uma face até então desconhecida de nosso país. Novos números dão conta de que, em 2006, as populações preta e parda alcançaram cerca de 49,5% do total de pessoas, aproximando-se dos 49,7% da população branca. Situação parecida não ocorria desde o final do século XIX, quando 66% dos brasileiros eram pretos e pardos. Após um período sem registros, em 1940 foi realizada uma nova contagem, e nesta os brancos já eram maioria, sendo pretos e pardos apenas 34% do total da população. Entretanto, somente 6,9% das pessoas se autodeclaram pretas.

Em relação à utilização das nomenclaturas “pretos” e “pardos” na divulgação dos resultados da pesquisa, Marcelo Paixão, professor do Instituto de Economia (IE/UFRJ) especialista em questões raciais, diz que o uso é totalmente correto. “Tanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quanto os movimentos raciais utilizam essa terminologia. No censo, o IBGE pergunta às pessoas se elas se consideram ‘brancas’, ‘pretas’, ‘amarelas’, ‘pardas’ ou ‘indígenas’. A mídia fez uma confusão dos termos e começou a usar ‘negro’ no lugar de ‘preto’, sendo que ‘negro’ é considerado a mistura entre preto e pardo”, sinaliza.

No entanto, Paixão não acredita em uma palavra carregar um sentido mais negativo ou preconceituoso que outra. Para o professor, o preconceito é uma questão política e não se restringe à utilização de ‘negro’ ou ‘preto’.

“Se uma pessoa for preconceituosa, vai ofender com qualquer palavra que utilize. O vocabulário é o que menos importa, até porque essa é uma questão muito relativa. Nos Estados Unidos, o movimento de defesa dos pretos é o movimento black, e nigger tem um caráter mais pejorativo. Analisar o emprego desses termos na mídia é mais complicado, depende do veículo e da linha editorial, mas é evidente que a presença de pretos e pardos nos meios de comunicação é muito pequena ainda”.

O economista ressalta a diferenciação entre “cor” e “raça”. “Cor é um conceito baseado na aparência. Raça é uma idéia de caráter biológico, mas hoje já é ultrapassada. Na verdade, as pessoas são classificadas de acordo com seus aspectos visuais, como tonalidade de pele e tipo de cabelo, por exemplo.”

O professor também destaca: hoje, as pessoas se reconhecem como pretas ou pardas mais facilmente. Embora muitos autores importantes e movimentos sociais lutem pela igualdade de direitos para todos os cidadãos, ainda é possível perceber na sociedade traços de tentativas de “europeizar” a população. “Prova disso é que os galãs de nossas novelas são sempre brancos”, finaliza Marcelo Paixão.

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