• Edição 173
  • 28 de agosto de 2007

No Foco

Os capitalistas que desculpem, mas lucro não é fundamental

Aline Durães e Kadu Cayres

foto no foco

Foram mais de 200 livros publicados ao longo de duas décadas de existência. Criada em 1986, a Editora UFRJ, que inicialmente estava vinculada à Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa (PR-2), tinha como objetivo publicar teses desenvolvidas por pesquisadores da universidade. Em 1990, ela passou a ser responsabilidade do Fórum de Ciência e Cultura (FCC), mudou-se para o campus da Praia Vermelha e reformulou sua linha editorial.

Hoje, o mote principal da editora é exprimir, através da publicação de impressos, a pluralidade das áreas de saber e de correntes de opinião presentes na UFRJ. O critério editorial de seleção de livros é a qualidade acadêmica do texto. As obras que chegam até a editora são encaminhadas para a avaliação do Conselho Editorial, composto por sete pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento indicados pelo reitor Aloísio Teixeira e por Carlos Nelson Coutinho, diretor da editora.

Depois de aprovados pelo Conselho, os textos são enviados a dois pareceristas, que votarão ou não pela publicação dos impressos. Em caso de empate, um terceiro especialista é convocado para decidir. “Recebemos também obras de professores estrangeiros e de pesquisadores de outras universidades brasileiras. Se a qualidade do texto for alta, se acharmos que é um livro importante para ser difundido em nossa universidade e fora dela, nós publicamos”, explica Carlos Nelson Coutinho, lembrando que a editora não trabalha com obras poéticas ou de ficção.

Com uma média anual de 20 livros publicados e 30 mil vendidos, a Editora UFRJ, assim como as demais editoras universitárias, possui particularidades. Parte da cadeia produtiva dos livros é subsidiada pelo governo, o que permite preços mais acessíveis à comunidade acadêmica. Além disso, a Editora da UFRJ publica títulos voltados a um público especializado, que, muitas vezes, não é contemplado pelas editoras comerciais.

Paulo César de Castro, professor da Escola de Comunicação da universidade, avalia a editora como sendo de fundamental relevância para o cenário acadêmico e social, pois cumpre o papel que se espera de uma editora universitária. “Mais do apenas publicar dissertações e teses dos professores da UFRJ, ela edita obras fundamentais que não teriam espaço no catálogo das editoras privadas” – ressalta.

A editora e o mercado

Algumas obras da Editora UFRJ podem ser encontradas em livrarias comerciais das principais cidades do país. Mas não são todos os livros editados pela universidade que interessam ao mercado. Fernanda Ribeiro, coordenadora de divulgação e comercialização da editora, conta que muitas livrarias disponibilizam o catálogo da Editora para venda apenas em suas homepages.

Segundo Fernanda, a dificuldade de inserir determinados textos nos pontos comerciais explica a importância das livrarias universitárias: “Às vezes, o leitor só consegue nossos livros no site da loja. Se ele for até uma livraria, não vai encontrar todos os textos do catálogo da universidade, mas apenas os mais vendidos. Diante disso, é fundamental que tenhamos nossos próprios locais de venda para atender os nichos mais específicos de leitores. Nas duas livrarias universitárias da UFRJ, nós oferecemos descontos durante todo o ano, além de vendermos livros de outras editoras universitárias”, afirma.

Os pesquisadores que publicam livros pela Editora UFRJ percebem 10% do montante gerado com as vendas como direitos autorais. A maior parte dos docentes, no entanto, opta por receber esse valor em livros. “Tanto a universidade quanto os pesquisadores têm como meta não o dinheiro, mas sim a distribuição do trabalho e a veiculação do conhecimento. Por isso, é mais comum o autor que prefere os livros, até porque, com os livros em mãos, ele pode divulgar seu trabalho e presentear formadores de opinião com a obra”, esclarece Fernanda Ribeiro.

Reforçando o que foi dito por Fernanda, Paulo César de Castro afirma que a grande dificuldade na distribuição se deve aos altos valores cobrados pelas distribuidoras (cerca de 10 a 15% do preço de capa). Por isso, torna-se difícil encontrar livros de outras editoras universitárias nas livrarias comerciais.

Ronaldo Lima Lins, diretor da Faculdade de Letras (FL/UFRJ), já publicou dois livros com o selo da UFRJ. Na opinião do professor, as editoras universitárias, por não estarem condicionadas ao mercado e por não almejarem margens excessivas de lucro, publicam discussões e reflexões filosóficas importantes, exercendo papel crucial no contexto da cultura brasileira.

Ronaldo acredita que os autores, em geral, recorrem às editoras privadas pelo prestígio dos selos e porque imaginam que elas sejam dotadas de grande capacidade de divulgação. O processo na prática é outro, entretanto: “Na prática, a coisa funciona de modo diferente. As editoras realmente grandes lançam tantos títulos que lhes falta estrutura para se ocupar de cada um deles. Soterram livros sob livros. Com sorte, um se destaca e compensa o prejuízo dos outros. As universitárias, por outro lado, afirmam-se num processo lento, prejudicado pela falta de recursos e pela incapacidade de chamar a atenção para os seus produtos. Seja como for, para um autor o importante é publicar. Livros são como pessoas. Uma vez no mundo seguem o seu caminho”, destaca.

Bienal

Desde 1995, a UFRJ participa da Bienal Internacional do Livro. No evento deste ano, que será realizado de 13 a 23 de setembro, no Rio Centro, a Editora da UFRJ vai integrar o estande da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU), que, com uma área de 600m2, será o segundo maior estande da bienal, perdendo apenas para o das editoras evangélicas.