• Edição 169
  • 31 de julho de 2007

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UFRJ participa das comemorações dos 40 anos de 1968

Aline Durães

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Guerra Fria. Conflito no Vietnã. Governos ditatoriais na América Latina. Imposição do AI-5 no Brasil. Contestações. Questionamentos. Mobilizações estudantis. Revisões ideológicas. Esses foram alguns dos fatos que marcaram o ano de 1968. Esse ano, e todas as transformações suscitadas a partir dele, foram de tal forma impactante para as sociedades contemporâneas que intelectuais de todo o país estão preparando uma série de eventos para celebrar, em 2008, os 40 anos de 1968.

Carlos Vainer, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) ligado ao grupo de intelectuais, trouxe a idéia da comemoração para a UFRJ. De acordo com o docente, que está se reunindo, desde o dia 9 de julho, com membros da comunidade universitária interessados na iniciativa, a intenção é organizar eventos que almejem pensar os processos políticos, societários, culturais e artísticos desencadeados em 1968.

— Queremos pensar, por exemplo, como estava o Cinema, a Psicologia, a Psiquiatria e a Música em 68. Em todas as esferas da vida social, houve rupturas. Resgatar essa idéia é fundamental, sobretudo em um país que parece muito acomodado sobre o fato de que não temos muito o que fazer — enfatiza o professor.

O objetivo principal dos organizadores é realizar as comemorações em locais nos quais existam remanescentes das experiências de 1968. Vainer salienta que pretende mobilizar instituições como a PUC e a UERJ para os eventos e lembra que essas universidades participaram decisivamente dos acontecimentos do ano de 1968 no Brasil.

— Che Guevara dizia que era necessário criar um, dois, três mil Vietnãs. Eu brinco dizendo que é necessário criar um, dois, três mil eventos comemorativos de 68. Eu quero que todo mundo colabore, celebre e rememore esse período, porque a rememoração é uma atualização presente daquilo que aconteceu naquele ano — observa.

Apesar de ainda não ter sido estabelecida uma programação oficial das comemorações, Vainer antecipa que, entre as idéias do projeto, constam a exibição de mostras retrospectivas de filmes da época, a organização de um debate filosófico internacional e a elaboração de concursos nacionais de redação de Ensino Médio e de monografias de Ensino Superior sobre os eventos de 1968. Além disso, o site oficial do evento comemorativo, que está sendo desenvolvido pela Coordenadoria de Comunicação da UFRJ (CoordCOM/UFRJ), disponibilizará um espaço no qual estudantes poderão realizar pesquisas escolares sobre o tema.

A importância de 1968

A importância de 1968 vai além das inúmeras manifestações críticas verificadas no período e se traduz também através das propostas inovadoras relacionadas a novas formas de pensar as relações entre gêneros e intrafamiliares surgidas no final da década de 1960: “rememorar, comemorar e atualizar 1968 é uma maneira de continuar travando uma luta por idéias, visões de mundo e por práticas societárias, familiares e sexuais. É lutar também por determinadas práticas políticas, nas quais cada cidadão se vê com um agente da política. Difundir as idéias que ali estavam presentes e que permanecem fortes na nossa sociedade, mas que alguns desejam enterrar, é o nosso objetivo”, sublinha Vainer.

O professor destaca que iniciativas como o projeto de celebração de 1968 são importantes especialmente dentro do atual contexto político-econômico: “falar de 68 é falar sobre um sentimento latente de insubordinação, de desafio à autoridade, de desrespeito às instituições, sejam elas familiares, políticas, escolares, universitárias, artísticas ou musicais. Embora ninguém tenha tomado o poder em 1968, ele foi severamente questionado em várias esferas. Hoje, há uma onda conservadora reacionária que critica a permanência desse sentimento de que é necessário contestar. O momento atual, marcado pela falta de utopias e pela crise do socialismo, torna fundamental a realização de um evento como esse”, completa.