• Edição 151
  • 22 de março de 2007

De Olho na Mídia

Por uma universidade de oportunidades

Candidato à reeleição pretende ampliar acesso à instituição

Embora seja candidato único ao cargo de reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o professor titular do Instituto de Economia Aloísio Teixeira, de 62 anos (29 deles como professor da instituição), intensifica a agenda na reta final de campanha para conquistar maior parcela de estudantes e legitimar sua permanência na cadeira. Cerca de 60 mil alunos, professores e funcionários estão habilitados a votar, entre os dias 2 e 4 de abril.

Licenciado da reitoria para disputar o pleito, o economista concentrará esforços na ampliação do número de vagas nos cursos de graduação e na democratização do ensino com outras formas de ingresso para alunos da rede pública por meio de subsídios na forma de bolsas de auxílio à parcela carente.

JORNAL DO COMMERCIO – A carência na segurança ostensiva na Ilha do Fundão resulta em ocorrências de assaltos sofridos por estudantes, até mesmo em casos de desova de cadáveres no campus. Existem meios de reverter este quadro?

ALOÍSIO TEIXEIRA – A Ilha do Fundão é uma área federal e existe um impasse entre a competência no patrulhamento, que teoricamente ficaria a cargo da Polícia Federal. Como os agentes são destacados para ocupar cargos burocráticos, a PM acaba preenchendo esta lacuna. Este quadro é agravado em função da proximidade com o Complexo do Alemão, além da extensão territorial da ilha que detém uma área de um milhão de metros quadrados. Logo, a segurança preventiva figura como a principal arma para conter os índices de violência. Promovemos a instalação de câmeras de vídeop no alto de edifícios para ajudar no monitoramento. A universidade tem linha direta com a PF e uma boa relação institucional com estruturas da secretaria de segurança pública (Polícia Civil e Militar). O tema foi tratado com prioridade em minha gestão tanto que não há relatos de desova de corpos no interior do campus. Houve ainda investimentos de R$ 13,690 milhões em segurança patrimonial, o que ajuda a inibir a violência já que vigilantes podem andar armados. O quadro de agentes, mantido por contrato com uma empresa especializada que ganhou uma licitação, respalda as ações da polícia.

JORNAL DO COMMERCIO – O orçamento da universidade chegou a R$ 90 milhões em 2006 — valor inferior se comparado a USP, cujo orçamento atingiu R$ 300 milhões. Como definir os projetos prioritários dentro de uma receita apertada?

ALOÍSIO TEIXEIRA – Em 2007, a União aprovou orçamento de R$ 104 milhões. Com emendas e suplementações, a expectativa é que o valor atinja R$ 110 milhões, ainda assim recursos insuficientes para atender as reivindicações de universitários, docentes e funcionários administrativos. O ideal seria R$ 150 milhões. Hoje, metade destes recursos é aplicada para o pagamento de custos com energia, água, esgoto e, principalmente, vigilância privada. Excluem-se custeio, com folha de pagamento de pessoal. A margem para investimentos para melhorias e reformas é pequena, daí a importância de convênios com a iniciativa privada. Já avançamos muito na questão orçamentária. Para se ter uma idéia, o valor foi de R$ 42 milhões, em 2003. Apesar da implantação do orçamento, o balanço contábil registra déficit todos os anos, daí a necessidade de negociar dívidas para dar sustentação ao que a UFRJ necessita como bolsas para subsidiar alunos e compra de insumos para promover reformas de restauração de laboratórios. A construção do restaurante, em aliança com o Banco do Brasil, permitirá a oferta de refeições a preços populares.

JORNAL DO COMMERCIO – Como o senhor avalia a política do governo Lula para área de educação e o comando do ministro Fernando Haddad a frente da pasta?

ALOÍSIO TEIXEIRA – A universidade pública recuperou a importância no mandato do presidente Lula. O nome do Fernando Haddad é visto com bons olhos porque conseguiu garantir orçamentos maiores para o ensino superior do país. Percebe-se ainda um dinamismo na interlocução com o MEC. A expectativa é que o orçamento continue se recuperando para sanar a defasagem do ensino nos últimos anos. A criação do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento para Educação Básica) terá reflexos na educação do ensino superior devido aos recursos que serão injetados para melhorar a qualidade da educação.

JORNAL DO COMMERCIO – No vestibular de 2006, 4,3 mil alunos de colégios particulares contra 1,7 mil da rede pública mostraram que a UFRJ é elitista com base no ingresso. Quais são as medidas eficientes para democratizar o ensino na universidade?

ALOÍSIO TEIXEIRA – A quantidade de alunos recém-saídos do ensino médio que pleiteiam uma vaga na universidade oscila com o passar dos anos, porém os cursos de graduação identificam aumento de demanda em áreas de conhecimento como comunicação, medicina e direito. Há um esforço concentrado em dobrar o número de vagas na grade, contudo, é vital realizar uma reestruturação profunda, com a utilização de vagas ociosas que surgem com a evasão acadêmica. Os motivos variam desde a dificuldade financeira, que acabam tendo que trabalhar e, por isso, são absorvidos pela universidade particular, até a decepção com o curso optado já que a escolha por uma área é realizada de forma mais precoce. A solução seria a criação de vagas adicionais para absorver a demanda e diversificar o horário dos cursos para períodos noturnos, além de subsidiar o estudante por meio de bolsas de caráter assistencial. Quadruplicamos o número de alunos atendidos e diversificamos a carteira de bolsas como subsídios de iniciação artística e auxílio para alunos que estão hospedados em alojamentos. O auxílio financeiro ao estudante totalizou R$ 14 milhões. A expectativa para 2007, é desembolsar R$ 15,762 milhões.

JORNAL DO COMMERCIO – O corpo docente da UFRJ carece de profissionais com títulos de doutores e outros especialistas?

ALOÍSIO TEIXEIRA – O cenário demonstra uma defasagem entre o contingente de professores que se aposentam e profissionais que integram o corpo docente. Estes profissionais não são repostos. Hoje, a universidade dispõe de 3,5 mil professores, número pouco acima da metade mantida pela UFRJ há dez anos. Nos últimos quatro anos, houve apenas um concurso para área. Porém, é no quadro técnico administrativo que a situação é grave.

JORNAL DO COMMERCIO – As eleições para o mandato (2007-2011) têm uma única chapa. Esse fenômeno indica a convergência a uniformidade de idéias na academia?

ALOÍSIO TEIXEIRA – Não tenho a pretensão de achar que todos concordam comigo e, por isso, não querem fazer oposição. Mas minha gestão foi participativa, restabeleci o debate das idéias, sem conflitos pessoais e perseguições. Seria bom se houvesse mais candidatos, favoreceria o debate no campus. É claro que no ambiente acadêmico não existe unanimidade. O conflito de idéias para produção de um conhecimento é um patrimônio da universidade, hoje batizada pelas premissas democráticas e preservação das relações pessoais. Ao mesmo tempo isso significa que minha administração não foi um fracasso.

Veículo: Jornal do Commercio   Data: 19/03/2007   Editoria: Rio de Janeiro