• Edição 150
  • 15 de março de 2007

Resenha

Corpo e subjetividade na Medicina: impasses e paradoxos

capa do livro

Por: Francisco Conte

A Medicina contemporânea, apesar da enorme sofisticação dos recursos biotecnológicos, farmacêuticos e terapêuticos postos a sua disposição, vive evidente desconforto. Um mal-estar que, difusamente, perpassa as queixas dos pacientes quanto à crescente desumanização dos atendimentos de saúde e, de forma mais evidente, se traduz na baixa adesão aos tratamentos preconizados e no intrigante crescimento das terapias alternativas. Liana Albernaz de Melo Bastos, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro e professora de Psicologia Médica do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina (FM/UFRJ), enfrenta esses impasses a partir da discussão das tensões entre a Medicina como ciência e como arte; cujas raízes fincam-se no paradoxo entre a objetividade e universalidade do conhecimento que o médico é chamado a dominar, e a subjetividade e singularidade do encontro clínico.

O modelo biomecânico da Medicina ocidental, que, apesar de datado, em larga medida ainda embasa o ensino da disciplina, começou a se forjar no bojo do projeto Iluminista dos séculos XVI e XVII e ganhou curso geral, mais tarde, com o empreendimento positivista de extrapolação do paradigma cartesiano-newtoniano para os demais campos do conhecimento. Uma abordagem que, consoante uma visão de mundo que desconsidera contextos sociais e históricos, desvincula, desconecta e, não raro, opõe corpo e psiquê, reduzindo o sujeito-paciente a seu organismo.

A experiência profissional da autora permite-lhe escolher os conceitos de corpo e subjetividade, como centrais para o desvelamento dos limites desse paradigma, ao mesmo tempo em que possibilita eleger o referencial psicanalítico como capaz de apontar-lhe os impasses antropológicos, epistemológicos e ontológicos.

Livro magnífico que merece ser lido não apenas por profissionais da área da saúde, mas por todos interessados em compreender os dilemas contemporâneos desse campo de conhecimento e de práxis. O prefácio foi escrito por Carlos Alberto Platino, psicanalista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ), e a orelha por Eliana Cláudia Otero Ribeiro, professora do Programa de Pós-graduação Educação em Ciências e Saúde do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (Nutes) da UFRJ.

Autor: Liana Albernaz de Melo Bastos

Editora UFRJ 2006