• Edição 149
  • 08 de março de 2007

Resenha

Bioética, riscos e proteção

capa do livro

Por: Francisco Conte

Cinza é a teoria, verde a árvore da vida. A crise da Modernidade vem opondo uma interrogação ao projeto iluminista de uma ciência benfazeja e essencialmente comprometida com uma perspectiva civilizadora. Em vários momentos trágicos do século XX que passou, pudemos assistir, atônitos, as mais avançadas conquistas do espírito e da prática científica serem associadas a iniciativas irracionais e eticamente questionáveis.

Daquele otimismo talvez ingênuo passamos, assim, a uma desconfiança prudente e, em muitas mentes, a uma oposição aberta e não raro fóbica aos avanços da ciência moderna: desafios enormes à bioética, que surge como tentativa de compreender os impactos morais das intervenções biotecnológicas e como esforço para normatizar a prática de um dos mais cruciais e candentes campos do conhecimento humano, de modo que sejam consideradas moralmente aceitáveis por nossas sociedades.

Seja como for, na era em que, por assim dizer, o laboratório se expande e ameaça abarcar o mundo todo, as práticas correntes parecem a muitos pesquisadores, intelectuais e cidadãos comuns insuficientes para dar conta dos riscos envolvidos nas atividades científico-tecnológicas de ponta.

Daí a urgência desse livro, que reúne contribuições apresentadas ao I Congresso de Bioética do Estado do Rio de Janeiro, promovido pela regional fluminense da Sociedade Brasileira de Bioética (SBRio) e realizado, em novembro de 2003, na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), com o apoio da Fiocruz, da UFRJ e das principais universidades públicas do estado. Resulta do esforço para construir uma bioética de proteção voltada para discussão do impacto das ações humanas que possam representar riscos e, posteriormente, danos à qualidade de vida das pessoas, dos animais e dos ambientes naturais. Aplicada à realidade latino-americana ela propõe importantes aportes teóricos e práticos que não podem ser desconsiderados, a partir de agora, na elaboração de políticas de saúde pública.

Ao todo são quinze artigos de cerca de vinte cientistas, filósofos e intelectuais que, ancorados em referenciais teóricos diferentes e, às vezes, divergentes, oferecem um conjunto intrigantemente amplo de reflexões sobre a bioética que vai desde a discussão de seus pressupostos até discussões mais contextualizadas. O prefácio é de Sylvia Vargas, professora da Faculdade de Medicina, e Antônio Ivo de Carvalho, diretor da Ensp/Fiocruz, escreve a orelha da edição.

Organizadores Fermin Roland Schramm, Sérgio Rego, Marlene Braz e Marisa Palácios

Editora UFRJ e Editora Fiocruz