• Edição 142
  • 30 de novembro de 2006

No Foco

Caminhos para uma nova cidade

Luíza Duarte

foto no foco

Como pensar uma cidade partida? Como lidar com a questão das favelas? Qual o papel da universidade na busca por novos caminhos? Para buscar respostas para essas questões a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ) e o Observatório de Favelas promovem a Semana Habitar a Cidade, que acontece entre os dias 27 de novembro e 1° de dezembro.

Diversas iniciativas bem sucedidas na periferia buscam saídas para a integração da cidade. Os projetos sociais chamam a atenção para as favelas e transformam os moradores em agentes sociais. O professor Jailson de Souza e Silva, coordenador Observatório de Favelas e Marcus Faustini, cineasta e diretor do Projeto Reperiferia, sob a coordenação de Denise Pinheiro Machado, professora da FAU, participaram do debate Caminhos para uma nova cidade.

Para o cineasta Marcus Faustini, a favela não é um problema, ela foi uma solução encontrada para a falta de planejamento e o crescimento das cidades. O problema é a ausência de políticas públicas sociais e divisão do Rio de Janeiro em dois mundos. Ele busca a inclusão social e subjetiva através do ensino da arte na periferia.

O desafio é pensar a cidade a partir da periferia e não pelo ponto de vista da classe média. Esse discurso do cidadão consumidor deve ser desnaturalizado. Para isso, o Observatório de Favelas criou uma agência de notícias e um “ibope” próprios. “É preciso pensar os problemas da favela não do ponto de vista da classe média, mas sim de seus moradores”, afirmou o cineasta.

Segundo o professor Jailson de Sousa, a universidade ainda é dominada por setores restritos e não representa proporcionalmente a sociedade brasileira. Ela tem que ter uma perspectiva de parceria diante da comunidade e não de arrogância. É necessário formar pessoas e reverter o conhecimento produzido na universidade para as periferias. Políticas de inclusão social é que podem unir uma cidade segregada. Promover o reconhecimento da cidade que, embora uma, deve ser múltipla.

Para os participantes da mesa do debate, está sendo criada uma grande rede de organização da periferia, que produz um discurso não de gueto, mas de cidade. A presença do estado nas favelas, apenas com políticas repressivas, acaba por reforçar o quadro de guerra em que vive o Rio de Janeiro. Os meios de comunicação acentuam o preconceito, ao se referirem aos moradores da periferia como criminosos em potencial. Essas iniciativas tentam fazer com que as comunidades se reconheçam e produzam seu próprio discurso, em busca da cidadania, em um projeto de cidade de convivência e não de tolerância.