• Edição 138
  • 01 de novembro de 2006

Zoom

Um retrato da juventude pobre do Rio de Janeiro

Rafaela Pereira, do Jornal da UFRJ

imagem zoom

Esse é o título da pesquisa realizada, em 2002, pelo Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercambio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (Nipiac) – do Programa de Pós-gradução em Psicologia da UFRJ. Fazendo parte do Programa Jovem Total, do governo do Estado, a pesquisa tinha como proposta conversar com os jovens sobre suas vidas, sua comunidade, perspectivas, inserção na sociedade e esperanças em relação ao futuro. Diante da qualidade dos resultados, no ano passado o núcleo editou o livro Mostrando a Real, um retrato da juventude pobre no Rio de Janeiro (Editora Nau/2005), com o apoio da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).

A pesquisa foi dirigida por Lucia Rabello de Castro, Jane Correa e uma extensa equipe de pesquisadores ligados ao núcleo e entrevistou cerca de 1900 jovens de 19 comunidades da região Metropolitana do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense, tendo entre elas o Andaraí, Jacarezinho, Manguinhos e Cidade de Deus. Os temas abordados foram os mais variados, como por exemplo, a vida em família, escola, violência, tráfico de drogas e perspectiva de futuro. “De início, eles ficaram tímidos, não estavam acostumados a ações desse tipo. Com o tempo e a convivência, eles puderam perceber a importância e riqueza do trabalho que fizemos”, relembra Luciana Gageiro Coutinho, uma das pesquisadoras do Nipiac.

Escola

Segundo dados da pesquisa, cerca de 26% dos jovens não prosseguiram os estudos. Destes, 10% não puderam concluir o Ensino Fundamental e menos de 1% consegue dar prosseguimento aos seus estudos em nível superior.

Além das dificuldades internas do sistema escolar público, muitas vezes, o jovem tem problemas para chegar até a escola, tanto pela dependência de transporte público, quanto pela presença das facções criminosas que muda o cotidiano da comunidade e, também das escolas.

Família

Dos jovens entrevistados, a maioria mora com a chamada família nuclear (mãe ou madrasta, pai ou padrasto e irmãos) ou com sua família em associação a outros parentes. Chamou atenção das pesquisadoras o fato de um quarto desses jovens viverem com suas mães e/ou irmãos (15%) ou com suas mães em conjunto com outros parentes (10%), mostrando a importância da mulher na manutenção do laço familiar. Poucos são os jovens que moram com amigos ou pessoas conhecidas, 12% vive com um companheiro e em menos de 10% das respostas os pais aparecem como referência. “A família surge como referência na falta que há da escola e das instituições públicas, por exemplo. Assim, o grande projeto de futuro deles é se estabelecerem para ajudarem essa mãe”, explica Sonia Borges Cardoso de Oliveira, também pesquisadora do Nipiac.

Droga, violência e tráfico

Esses são os três temas que os jovens se referem com freqüência. Eles aparecem como algo avassalador e invasivo na vida dos jovens levando o medo para dentro da vida de cada um deles. “Eles (traficantes e policiais) entram de repente atirando, como se não houvessem pessoas inocentes”, disse uma jovem moradora do Jacarezinho. Assim, a vida desses jovens é conviver com esse medo, com a violência, a falta de oportunidades e com a exclusão social.

Futuro

Diante da pergunta “como você imagina o seu futuro?”, diferentes são as respostas. De ser feliz e conquistar um emprego até estudar ou ter fama. Contudo, todas apontam para expectativas de uma vida estável. “Eles mostram que, apesar de tudo, querem uma outra coisa. Querem um trabalho, condições melhores de vida, embora não tenham materiais e aparato para isso. Os jovens querem uma outra coisa que não é a que está sendo oferecida”, analisa Sonia Borges.