• Edição 138
  • 01 de novembro de 2006

No Foco

Lula de novo. E agora?

Aline Durães

foto no foco

Com 60,83% dos votos válidos, o que representa cerca de 58 milhões de votos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva superou Geraldo Alckmin, venceu as eleições 2006, em pleito realizado no dia 29 de outubro, e garantiu mais quatro anos à frente do governo federal brasileiro.

Diferentemente do que aconteceu em 2002, Lula assumirá a presidência, no dia 1º de janeiro de 2007, tendo como pano de fundo um quadro de aparente tranqüilidade econômica: PIB crescente, inflação anual controlada, dólar estável e risco Brasil no menor patamar da História. Diante disso, a coalizão governista promete um quadriênio marcado por discussões de grandes projetos para o país e por maiores índices de desenvolvimento.

O que se configura no plano prático, no entanto, é a possibilidade, cada vez mais real, de manutenção das principais linhas programáticas adotadas por Lula no primeiro mandato. Aluízio Alves Filho, cientista político do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), afirma que o Brasil não passará por mudanças significativas: “Os juros vão continuar caindo, mas essa é uma tendência que já faz parte da estratégia do governo, não representa uma grande mudança”, explica.

Aluísio assegura que mesmo as políticas de distribuição de renda, comandadas pelo programa Bolsa Família, carro-chefe do governo Lula e arrendador de considerável parte dos votos dados ao partido de situação, não sofrerão alterações significativas nos próximos quatro anos. Para o professor, a política externa brasileira se manterá independente, apesar das especulações feitas em torno de um possível estreitamento de laços com os Estados Unidos e com o Mercado Comum Europeu. “Não haverá também nenhuma guinada esquerdista. Lula não tomará nenhuma medida que não seja palatável pelas elites e por empresários”, conjetura.

Na opinião de Carlos Vainer, sociólogo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), a generalidade das propostas do programa de governo de Lula e a ausência de compromissos assumidos durante a campanha presidencial impossibilitam uma análise mais apurada das perspectivas políticas brasileiras. “Li e reli o programa do PT. Percebi que ele é de uma vacuidade total. Não podemos dizer o que vai acontecer, porque muitas questões importantes, como a efetivação das reformas tributária e previdenciária, ficaram de fora dos debates. Ninguém se preocupou em discutir um grande projeto nacional”, critica.

Dificuldades Futuras

Vainer, que elege a derrota das grandes oligarquias regionais da Bahia e do Maranhão como a novidade alvissareira das eleições, interpreta a tranqüilidade dos setores dominantes da sociedade brasileira e do mercado financeiro internacional como a prova cabal de que o presidente não enfrentará grandes problemas para governar.

Já Aluízio Alves Filho acredita que a oposição perpetrada pelo PSDB, partido derrotado no pleito, será mais virulenta neste segundo mandato e prevê que um refluxo da economia capitalista somado às tensões em nível internacional pode afetar o quadro político interno brasileiro, abalando as expectativas dos petistas.

Para o pesquisador, um outro ponto de tensão para o próximo governo de Lula será a polêmica Reforma Trabalhista. “Não sei como o PT vai avançar nessa proposta, mas se continuar da forma como está, defendendo a diluição do 13º salário e da multa por demissão sem justa causa, ela se constituirá em uma medida mais impopular do que a Reforma da Previdência”, avalia.