• Edição 136
  • 19 de outubro de 2006

Resenha

A formação da antropologia americana

capa do livro

Por: Francisco Conte

O nome de Franz Boas ocupa um lugar de destaque na formação da moderna antropologia cultural americana no início do século XX. Em uma época em que ela significava, quase sempre, investigação das características biológicas dos povos, o trabalho de Boas deslocou radicalmente o foco da disciplina para o da cultura. Religião, arte, história, lendas, costumes, línguas e tradições tornaram-se então objeto privilegiado de meticulosa observação científica. Como resultado do seu trabalho, oferecerá uma contundente crítica do evolucionismo e da noção de raça e ajudará a forjar o importante conceito de etnocentrismo. A antropologia começava a ganhar a face com que nos acostumamos a reconhecê-la.

Franz Boas (1858-2942) nasceu em Minden, na Alemanha, no seio de uma família judaica liberal influenciada pelos ventos democráticos da Revolução de 1848. Doutorou-se em física pela Universidade Kiel em 1881 e parecia votado a uma carreira nas ciências exatas, quando passou a freqüentar as reuniões da Sociedade Antropológica de Berlim. Foi em uma viagem para Baffinland, Alasca, com a intenção de escrever um livro sobre psicofísica, que Boas vivenciou entre os esquimós a sua primeira experiência de campo, o que foi determinante para a mudança definitiva de seu interesse acadêmico. Imigrou mais tarde para os Estados Unidos onde desenvolveu a maior parte de sua obra. Primeiro professor de antropologia da Universidade de Colúmbia teve - o que não deixa de ser curioso para nós - entre seus alunos Gilberto Freire, que o saúda no prefácio de Casa Grande e Senzala.

Apenas agora sua extensa obra começa a chegar aos leitores brasileiros. George W. Stocking Jr., importante estudioso da História da Antropologia, organizou e redigiu os textos introdutórios dessa antologia que reúne 48 trabalhos de Franz Boas, divididos em dez partes: as premissas da antropologia de Boas, pontos de vista antropológicos básicos, uma amostra do trabalho de campo de Boas, o folclore e a crítica ao evolucionismo, o estudo analítico da língua, a crítica ao formalismo na antropologia física, capacidade racial e determinismo cultural, panoramas antropológicos, a difusão da antropologia e, finalmente, antropologia e sociedade. A seleção, segundo seu organizador, “tenta apresentar Boas no seu contexto e no seu apogeu; tenta apresentá-lo na sua totalidade”. É a mais completa edição dos textos de Franz Boas até hoje publicada em língua portuguesa.

Autor: Franz Boas

Editora UFRJ e Contraponto

Ano: 2004