• Edição 131
  • 14 de setembro de 2006

Resenha

Obras e vidas, o antropólogo como autor

capa do livro

Por: Francisco Conte

O lugar da escrita no trabalho antropológico continua sendo objeto de disputas. E não apenas entre especialistas do campo, pois a ciência (a denominação mesma já é controversa) impactou, a partir, sobretudo, de meados do século passado, diversos campos da cultura contemporânea. Há tempos ela deixou de ser apenas um depositário de investigações acerca de lugares, culturas e povos estranhos às sociedades ocidentais; no entanto, muitos — mesmo entre aqueles que a praticam com maestria — permanecem reticentes em reconhecê-la uma espécie peculiar de escrita, intermediária entre os textos fortemente autorais, com os da literatura, e os esvaziados de subjetividade, como os das Ciências Naturais.

Essas e outras questões que dizem respeito à natureza da disciplina são objetos deste pequeno livro, cuja audiência ultrapassa em muito o círculo dos especialistas. Clifford Geertz, que é um mos mais conceituados especialistas da chamada etnologia simbólica americana, analisa os trabalhos de quatro fundadores da Antropologia moderna — Claude Lévi-Strauss, Edward Evan Evans-Prichard, Bronislaw Malinowski e Ruth Benedict —, e reconhece neles, apesar das imensas diferenças, um caráter “autoral”, ao mesmo tempo insuspeito e instaurador de uma discursividade nova que vai além da mera exposição comedida de resultados de uma investigação acadêmica. A preocupação de Geertz não é, portanto, com dados históricos e particularidades biográficas — embora eles estejam presentes —, mas como o modo como esses pesquisadores famosos escrevem.

Essa orientação para o texto acaba revelando uma antropologia — e, por tabela, uma cultura — que se realiza em larga medida no palco da linguagem. Um projeto, por certo, pleno de riscos. Riscos que Clifford Geertz reconhece, mas que nos convida a correr.

Autor: Clifford Geertz

Editora UFRJ

Ano: 2005