• Edição 130
  • 06 de setembro de 2006

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Um anão entre gigante

Aline Durães

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Nas últimas semanas, os meios de comunicação dedicaram especial atenção ao céu. Isso porque, no dia 24 de agosto, os membros da União Astronômica Internacional (UAI), reunidos em Praga, capital da República Tcheca, retiraram de Plutão o status de planeta. O objeto, que foi considerado, por 76 anos, o nono planeta do Sistema Solar, recebeu nova denominação e, a partir de agora, deve ser encarado como planetóide ou planeta anão.

O que, aparentemente, soou como novidade aos ouvidos dos cidadãos comuns não surpreendeu a comunidade astronômica. Mesmo à época de sua descoberta, realizada em 1930, pelo norte-americano Clyde Tombaugh, Plutão já suscitava dúvidas nos pesquisadores, em função de seu reduzido tamanho frente aos planetas vizinhos.

Os planetas do Sistema Solar seguem uma ordem de formação: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, por se localizarem mais próximos do Sol, não acumularam, durante o processo de constituição, grandes quantidades de gelo e, por isso, são pequenos e compostos, principalmente, de rocha e metal. Já Júpiter, Saturno, Urano e Netuno são maiores, pois a distância em relação ao Sol e as baixas temperaturas permitiram a eles aglutinarem altos níveis de gelo. “Plutão quebrou essa seqüência. Ele era pequeno demais”, afirma Gustavo Mello, diretor do Observatório do Valongo.

Apesar da resistência de alguns estudiosos, a UAI reconheceu Plutão como planeta. De acordo com Gustavo, existia uma forte pressão política pelo reconhecimento internacional, impulsionada pelo fato de os Estados Unidos, pela primeira vez, terem sido os atores da descoberta. “Além do mais, até ali, não havia a discussão conceitual de planeta. Ninguém debatia quais características um objeto deveria ter para ser avaliado como tal”, explica.

Os primeiros questionamentos acerca da definição de planeta surgiram em 1978, quando pesquisadores encontraram Caronte, o satélite de Plutão. Ao analisar a órbita de Caronte, os observadores constataram que Plutão era menor do que se pensava até então: ele possuía cerca de 10% da massa de Mercúrio, planeta com 1/10 do tamanho da Terra. A descoberta, nos anos 80, do Cinturão de Kuiper, conjunto de asteróides próximos à órbita de Plutão, ajudou a acirrar a discussão.

Em 2003, astrônomos se depararam com um elemento novo no Cinturão: o 2003 UB313, vulgarmente conhecido como Xena. Esse objeto apresenta massa maior do que a de Plutão e, assim como esse, também possui um satélite. “Veio então a necessidade urgente de se pensar o que era um planeta. Se Plutão continuasse a ser definido como planeta, outros astros também deveriam ser elevados a essa categoria, entre eles o UB313, banalizando o conceito de planeta”, afirma Gustavo Mello.

Com o objetivo de acabar com a polêmica, a UAI determinou que, para ser planeta, o objeto precisa atender três exigências básicas: girar em torno do Sol, ser esférico e dominar os demais elementos de sua zona gravitacional. “A órbita de Plutão cruza com a de Netuno. O espaço de Plutão é comandado por Netuno. Foi isso que o desclassificou como planeta”, esclarece Gustavo.

O que muda?

Gustavo Mello garante que o rebaixamento de Plutão não irá promover grandes alterações na cosmogonia da sociedade. Para o pesquisador, que elege a Teoria Heliocêntrica de Copérnico como a grande revolução da Astronomia, os impactos dessa mudança serão sentidos apenas nos livros de Geografia: “Plutão ser ou deixar de ser um planeta não vai mudar a concepção de mundo das pessoas”, enfatiza.

O astrônomo, entretanto, teme que o novo rótulo iniba missões para Plutão. Gustavo afirma que o planetóide continua a ser imprescindível para o entendimento do Sistema Solar primordial. “Plutão, assim como os objetos próximos a ele, é um fóssil vivo; a sua composição química é a composição química do início do universo. Ele deixou de ser planeta, mas não deixou de ser cientificamente interessante”, completa.