• Edição 129
  • 31 de agosto de 2006

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Seminário sobre prevenção à violência sexual contra a mulher

 

Kadu Cayres

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Na manhã do dia 29 de agosto aconteceu, no Hotel Atlântico Copacabana, o seminário Prevenção à Violência Sexual Contra a Mulher: avaliando a atenção primária, onde a professora Ludmila F. Cavalcanti, junto com o Núcleo de Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino, da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ), apresentaram a pesquisa “Prevenção da violência sexual: avaliando a atenção primária no Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher”.

Segundo Ludmila, o seminário foi importante não apenas por mostrar os resultados da pesquisa, mas, também, pelo lançamento de um material educativo — um álbum seriado, destinado aos profissionais que atuam na rede de saúde, especificamente na rede primária. “O álbum é muito simples, didático e barato. Com ele, profissionais da saúde poderão reunir grupos de jovens, mulheres ou idosos, e esclarecer dúvidas sobre o assunto”, explica a professora, destacando que o material é um produto das reflexões críticas sobre pesquisa.

O álbum vai para toda rede municipal (300 unidades de saúde). No próprio evento, Ludmila ficou sabendo que a Secretaria Estadual de Saúde vai abrir uma licitação para que o mesmo seja distribuído em âmbito estadual, e que a Secretaria Especial de Política para as Mulheres, já está ciente do material. “É muito bom saber que isso está crescendo”, avalia a professora.

Além do álbum, um site e um marcador de livro foram lançados. Ambos contêm informações sobre violência sexual, e algumas recomendações que são úteis aos profissionais de saúde ( www.ess.ufrj/prevencaoviolenciasexual)

Objetivos da pesquisa

A pesquisa teve por objetivo avaliar as percepções dos profissionais de saúde envolvidos na atenção primária no Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), e indicar alternativas que favoreçam a prevenção da violência sexual nas unidades primárias de saúde.

Ludmila Cavalcanti explica que essa pesquisa é interinstitucional, na qual participaram a Escola de Serviço Social da UFRJ e a Secretaria Municipal de Saúde, através da gerência do programa de saúde da mulher. “Nossa parceria com o município é da ordem de dez anos, por meio de campos de estágios, atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão, conforme o tripé da universidade pública. Entretanto, ela se estreitou com esse trabalho, que faz parte do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (SUS), que é apoiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Departamento de Ciência e Tecnologia em Saúde (Decit), do Ministério da Saúde (criador desse edital)”, conclui.

Metodologia

Na pesquisa, que é de caráter avaliativo de abordagem qualitativa, foram entrevistados 40 profissionais de três Centros Municipais de Saúde do Rio de Janeiro, e sete equipes – ao todo 53 profissionais – do Programa de Saúde da Família. Além disso, 10 protocolos brasileiros de atendimento às vítimas de violência sexual e 50 sites relativos ao tema foram analisados.

Resultados

“Com essa pesquisa, pude perceber que apesar de bem qualificados e já fazerem parte há muito tempo do Sistema de Saúde, os profissionais não se sentem capacitados o suficiente para atender as mulheres”, esclarece Ludmila, afirmando que se essas pessoas, com uma bagagem profissional relevante, quando vistas nesse tipo de atendimento, não se sentem bem preparadas, o que torna a situação é preocupante.

O estudo comprovou, também, que além de não se sentirem preparados, alguns profissionais acreditam nunca ter atendido alguma vítima de violência sexual crônica — estupro dentro do casamento ou namoro; casamentos precoces forçados...— por ser muito difícil detectar. Na visão de Ludmila, isso acontece pelo fato de essas pessoas (profissionais) estarem presas à concepções ligadas ao senso comum, que culpabiliza o comportamento feminino e acha normal a obrigatoriedade do sexo no matrimônio, entre outros pontos.

A dificuldade dos Centros Municipais de Saúde (CMS) e do Programa de Saúde Familiar (PSF) de reconhecerem a responsabilidade da unidade de saúde em buscar essa situação. “Não adianta ficar dentro dos CMS, esperando que as situações cheguem, sem levar em consideração que as mulheres têm dificuldade de se colocar; não acreditam muito do sistema, logo têm medo. Então, cabe ao profissional investigar. Conversar. Tentar fazer com que a paciente fale sobre esses transtornos”, destaca a professora.