• Edição 122
  • 13 de julho de 2006

Ponto de Vista

Filosofia e Sociologia intensificam ensino de excelência do CAp

 

Priscilla Bastos

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O Colégio de Aplicação (CAp/UFRJ) é uma das melhores instituições públicas do Brasil, caracterizando-se pela excelente formação de seus alunos, baseada na reflexão crítica sobre a sociedade. Na década de 80, o Colégio oferecia Sociologia e Filosofia como disciplinas de sua grade curricular. Mas por falta de professores, as aulas de Filosofia foram interrompidas. Há dois anos o Cap retomou o ensino da prática filosófica, que será exigida em futuros concursos vestibulares.

O Olhar Virtual conversou com a vice-diretora Geral do CAp, Miriam Abduche Kaiuca, para saber quais as contribuições dessas duas disciplinas para a formação dos alunos do Ensino Médio.

“A Filosofia trata mais de juízo de valor do que de juízo da realidade, como as outras ciências fazem. Quando a Química e a Física, por exemplo, tratam de seus objetos de estudo, fazem isso lidando com a realidade. Em contrapartida, quando a Filosofia olha para a Química e a Física, questiona a validade do método de estudo. Quando, na Psicologia, se fala em homem livre, a Filosofia pergunta o que é liberdade. A importância da Filosofia está em não ser um saber abstrato, mas sim, o tecido que compreende a trama dos acontecimentos. É também um conhecimento que questiona o saber instituído. Ela vai ajudar, principalmente, os alunos do Ensino Médio a pensarem a totalidade, resgatando a ruptura da fragmentação entre os saberes. Com isso, buscamos que os alunos enxerguem a sociedade com uma visão de conjunto, para que sejam homens integrais, e não departamentalizados, como vemos hoje. É para que o aluno se questione também que homem, profissional e cidadão ele é. Isso está relacionado ao saber parcelado que tanto se discute hoje, principalmente na estrutura da UFRJ, com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que chama a atenção para a fragmentação da instituição. A Filosofia vem reascender essa questão. Há um filósofo que diz que a Filosofia ajuda o homem a reaprender o mundo, o que não significa que se vai negar os saberes, as especialidades, mas sim, fazer uma reflexão crítica dos fundamentos que são atualmente valorizados.

Já a Sociologia consta na nossa grade curricular desde a década de 80. Ela é o ponto de partida para uma análise sistemática, tanto quanto possível, da conscientização da compreensão crítica do ser humano existente no mundo e com o mundo. Faz uma análise mais crítica dos contextos sociais e de suas relações, tratando das questões de dominação, de subordinação, de ideologia, de opressão a fim de que o homem entenda essa complexidade e busque uma saída para ela. Essa é a proposta do CAp, pois, com um distanciamento, consegue-se ter uma análise mais crítica dos envolvimentos desse mundo. A Sociologia estuda o porquê dessas relações, por que há pessoas que vivem em uma mesma sociedade e de formas tão diferentes, tão opostas. A Sociologia trata, então, basicamente, do homem que se constitui no mundo e que não se asujeita, mas que se faz sujeito.

A nossa escola valoriza muito as relações entre pessoas, entre os grupos, trabalhar coletivamente, pensar coletivamente, olhar o CAp dentro do contexto social e fazer com que se avalie a influência mútua exercida. Discutir a Filosofia faz parte do perfil do CAp. Discutir Sociologia, a percepção das relações sociais, é uma das raízes do colégio. Esses homens que compõem o Colégio de Aplicação — os professores, os técnicos-administrativos, os pais, os próprios alunos — pensam sempre sobre as questões sociais. Faz parte da filosofia de educação proposta pelo CAp pensar filosoficamente.