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Edição 221      16 de setembro de 2008


Ponto de Vista

11 de Setembro: sete anos de reflexões

Rodrigo Lois - AgN/Praia Vermelha

imagem ponto de vistaHá pouco mais de sete anos, numa manhã de terça-feira, o vôo 11 da American Airlines colidia com a Torre Norte do World Trade Center, complexo empresarial que ficava em Manhattan, centro de Nova York. Logo em seguida, cerca de 15 minutos depois, o vôo 175 da United Arlines se chocava com o prédio ao lado. Até o momento da destruição do segundo Boeing, tudo era observado apenas como um trágico acidente. Mas logo se descobriria a complexidade do acontecimento. Ainda no mesmo dia, mais dois aviões foram seqüestrados por integrantes da Al-Qaeda, que também participariam de um dos atentados terroristas mais marcantes da História, no qual morreram milhares de pessoas. O “11 de Setembro” é considerado como um divisor de águas no olhar sobre o terrorismo e teve conseqüências que podemos perceber até hoje.

Uma iniciativa acadêmica para estudar as mudanças provocadas pelo atentado foi o seminário Sete anos de 11 de setembro de 2001: da guerra ao terror à estratégia anti-terrorista, realizado no dia 11 de setembro deste ano, do qual a UFRJ participou e foi sede. O objetivo do encontro foi analisar as alterações na percepção do fenômeno do terrorismo internacional, sete anos após os atentados de 2001, apreciar novas conceituações de terrorismo e estratégias globais anti-terroristas e debruçar-se sobre as repercussões do neo-terrorismo, inclusive na América do Sul. Além disso, contemplou-se as dificuldades na construção das relações internacionais nesse cenário.

O Olhar Virtual entrevistou Domício Proença, professor do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ, e Paulo Gabriel Hilu, antropólogo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Os docentes, que participaram do seminário, comentam alguns temas debatidos no evento.

Olhar Virtual: Atualmente, quais são as medidas mais recorrentes no combate ao terrorismo, enfim, qual a estratégia mais aplicada?

Domício: A estratégia mais utilizada nas políticas anti-terroristas é o estrangulamento dos fluxos que alimentam as possibilidades dos atentados terroristas acontecerem, principalmente o fluxo de dinheiro. Podemos também citar a “Guerra ao Terror”, postura de enfrentamento adotada pela administração Bush desde 11/09, e que se tornou o principal carro-chefe da política externa norte-americana.

Olhar Virtual: Como podemos observar, o cenário do terrorismo agora se dá num âmbito global e fragmentado. Qual o peso da Internet e das novas tecnologias para o surgimento de células independentes de grupos terroristas?

Domício: As coisas mudam e nós mudamos com elas. A digitalização chegou e mudou o mundo. Ela mudou a nossa vida econômica, social e cultural. Com o terrorismo, não deixaria de ser diferente. Ele também se transformou.

Olhar Virtual: Como repercute esse novo terrorismo na América do Sul?

Domício: Nós na América no Sul temos uma questão diante de nós. Nada garante que nós não venhamos a ser alvo a palco de um atentado terrorista. Na razão exata em que nós sejamos displicentes em relação a isso, nos arriscamos a estar totalmente impotentes e desesperados frente a um atentado terrorista. Dessa forma, poderíamos estar jogando fora uma década inteira de desenvolvimento por 10 minutos de desatenção.

Olhar Virtual: Quais foram as conseqüências da invasão do Iraque?

Paulo: A invasão do Iraque efetivamente afetou a dinâmica da identidade das comunidades muçulmanas do Oriente Médio de uma forma muito complicada. Primeiramente, temos a percepção de uma agressão cultural e política de cunho racista que vem da Europa e dos Estados Unidos, já que o Iraque foi invadido porque era árabe e muçulmano, afinal, não foi comprovada a existência de armamento químico no país. Além disso, puniu-se toda uma população que nada tinha a ver com o atentado de 11 setembro, com milhares de mortes e inúmeros refugiados, tudo em nome de uma ficção de que o mundo ficaria mais seguro sem Saddam.

Olhar Virtual: Qual a relação entre o fanatismo religioso e as ações terroristas?

Paulo: O fanatismo religioso existe de todos os lados. Podemos observá-lo tanto em Bush, que se apóia no lado mais radical da direita religiosa americana, como em Bin Laden. Mas o terrorismo não tem nada a ver com religião, nem com fanatismo. O importante é interpretar que processos políticos são responsáveis por tais acontecimentos. Os livros sagrados não devem ser levados como base para isso, já que eles legitimam quase tudo, desde massacres ao amor fraterno.

Olhar Virtual: Como foi afirmado no seminário, muitos movimentos terroristas estão atrelados a seu contexto local. Existe a possibilidade deles se transformarem em partidos políticos, assim como fizeram o ETA (sigla em língua basca para Euzkadi Ta Azkatasuna, Pátria Basca e Liberdade) e o Exército Republicano Irlandês (IRA)?

Paulo: Isso é claro, basta observarmos o caso do Hezzbolah, por exemplo, que se iniciou como movimento claramente jihadista ligado ao terrorismo e é hoje um partido no Líbano. Ele é absolutamente ligado ao mainstream político e até possui alianças com partidos não xiitas e não muçulmanos. É tudo uma questão de processos políticos.

Olhar Virtual: Qual a importância do estudo das conseqüências do 11 de setembro para o Brasil e para a universidade?

Paulo: Acho que é um tema fundamental para entender as relações internacionais e como elas se configuram no mundo contemporâneo, só que analisadas de um ponto de vista acadêmico, e não político. Temos que entender os contextos que produzem o atentado de 11 de setembro de 2001 como um evento e que tentam colocá-lo como uma causa de determinados processos militares, políticos, etc. É isso o que deve ser questionado.

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