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Edição 183      06 de novembro de 2007


No Foco

Evasão: o tabu da universidade

Mônica Reis

foto no foco

Tabu, é dessa forma que a evasão universitária ainda é vista dentro das instituições de ensino superior. Suas causas têm sido pesquisadas no âmbito das próprias universidades, mas estas ainda não incorporaram a trajetória de seus alunos como uma prática de avaliação interna. Não há divulgação de dados sobre estudantes que abandonam a universidade, e a conotação negativa que ronda o tema esconde a falta de debate, impedindo a adoção de medidas eficazes para a retenção dos alunos.

É possível identificar três tipos de evasão: a de curso, a de uma instituição em particular ou do ensino superior como um todo. Cada uma delas tem causas específicas. De acordo com Sabrina Moehlecke, professora do Grupo de Estudos dos Sistemas Educacionais (GESED) da Faculdade de Educação (FE/UFRJ), no caso da evasão por curso, o principal fator é a escolha prematura da carreira a ser seguida. “Os estudantes nem sempre têm uma idéia muito clara de cada curso superior e do programa que oferecem, dificultando uma escolha mais segura”, explica. Belkis Valdman, pró-reitora de graduação (PR-1/UFRJ), completa: “as lacunas de formação no Ensino Médio favorecem o desconhecimento das dificuldades acadêmicas, principalmente em matemática, física e química”.

Tais dificuldades nessas áreas de conhecimento são justificadas pelas taxas de conclusão em carreiras de Ciências Exatas e Engenharias. No caso da UFRJ, somente 50% dos alunos que ingressam nesses cursos saem da universidade formados. Esse percentual é baixo se comparado ao das áreas de Ciências da Saúde, Jurídicas e Sociais, além dos cursos de Letras e Artes, cuja taxa de conclusão é de 80 a 90%. Apesar disso, os índices de Ciências Exatas e Engenharias da UFRJ são muito semelhantes às de outras universidades no país e no mundo.

No que diz respeito à instituição em particular, a organização do currículo – geralmente fragmentado e especializado, sem visão de conjunto – e a pouca oferta de cursos noturnos dentro das universidades federais acabam por afastar os alunos que precisam trabalhar para se sustentar. Além disso, segundo Belkis Valdman, a dificuldade de adaptação social também conta. “O novo ambiente da universidade é mais competitivo e segregador se comparado com o do Ensino Médio. No caso da UFRJ, apesar de ter melhorado muito nos últimos anos, há ainda condições não muito favoráveis, principalmente quanto a espaços propícios ao estudo e integração em trabalhos em grupo”, afirma a pró-reitora.

A evasão do Ensino Superior como um todo, no entanto, é a considerada mais grave. De acordo com o último Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), a taxa de evasão anual média é de 22% no Brasil, um número bastante alto levando-se em consideração os quase 75% da população jovem ainda fora dos cursos superiores.

Perfil

Qual é o perfil do aluno que tem a oportunidade de concluir um curso universitário e não se forma? Estudos na área identificam o estudante vindo de estratos sociais inferiores, inserido no mercado de trabalho, oriundo de escolas públicas e com experiência pregressa no Ensino Superior como a principal vítima da evasão. Dois terços dos abandonos ocorrem ainda no primeiro ano do curso.

Esse retrato do aluno evadido é relativamente novo. De acordo com Sabrina Moehlecke, ele é resultado da inadequação das instituições quanto à ampliação das condições não só de acesso, mas também de permanência no Ensino Superior. “Tem ingressado nas universidades um novo tipo de estudante, oriundo de escola pública, é a primeira geração a alcançar esse nível de ensino ainda carente de condições para se dedicar exclusivamente aos estudos. Esse é um dado muito positivo, faz parte do processo de democratização do Ensino Superior no país”, explica a professora.

Um outro perfil também é bastante presente entre os evadidos: o do estudante já inserido no mercado de trabalho que busca a universidade para a complementação dos estudos, sem ter o diploma como meta principal. Essa situação, relacionada às novas exigências do mercado de trabalho e à necessidade constante de aperfeiçoamento, seria responsável por 20% do total de evasão, segundo estudo conduzido pela professora Sabrina Moehlecke.

Contudo, a formação familiar atual exerce papel preponderante no abandono da universidade. De acordo com Ruth Cohen, o fato de os jovens adiarem o exercício de atividades mais independentes, postergando sua saída da casa dos pais, contribui para a evasão. “É o medo natural de enfrentar o mundo, alimentado pela culpa dos pais, frente ao pouco tempo dedicado aos filhos em virtude do mercado de trabalho”, afirma a professora.

Soluções

Novas propostas têm surgido nos últimos meses, dentro da UFRJ, a fim de contornar o problema. Discussões da Comissão do Plano de Desenvolvimento e Expansão, criada pelo Conselho Universitário (Consuni), em conjunto com as unidades, têm procurado propiciar maior adaptação dos alunos de graduação, aumentando assim as taxas de conclusão de curso. Dentre as medidas estão incluídas a melhoria na infra-estrutura, a oferta de disciplinas especiais de recuperação e nivelamento, o aumento do número de cursos noturnos e a introdução de novas metodologias e atividades curriculares de laboratório.

A interação e os relacionamentos dentro da universidade também merecem destaque no combate à evasão. De acordo com Sabrina Moehlecke, o sentimento de pertencimento e o apoio dos colegas é fator importante observado para a permanência do estudante no Ensino Superior. “Os alunos que concluem o curso ou que ainda permanecem na universidade estabelecem laços de amizade com muito mais freqüência do que os alunos evadidos, que em geral limitam seus contatos a questões relativas às disciplinas”, explica. Já no campo da relação docente-discente, as Coordenações de Apoio Acadêmico (COAAs), na UFRJ procuram acompanhar, orientar e integrar professores e alunos, promovendo um maior aproveitamento das atividades promovidas pela universidade.

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