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Edição 172      21 de agosto de 2007


Olho no Olho

Fazer o bem sem olhar a quem!

Julia Vieira

imagem olho no olho

“O voluntário é aquele que, pleno de cidadania, solidariedade e motivação, doa seu tempo, seu conhecimento e sua capacidade a alguém ou a alguma comunidade.” — definição da Organização das Nações Unidas (ONU).

Com os Jogos Pan e Parapan-americanos Rio 2007, recém realizados, o trabalho voluntário ganhou grande visibilidade. Apesar de não termos no Brasil uma forte cultura de voluntariado, vários projetos e iniciativas, ligadas a Organizações Não-governamentais (ONGs) ou não, têm como base seus voluntários, que são peça fundamental para seu funcionamento e sucesso.

Estudantes da Faculdade de Medicina da UFRJ têm na Associação Saúde Criança Recomeçar, um espaço importante para a prática da medicina e cidadania. Ligada ao Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), a Recomeçar atende crianças recém liberadas do hospital e suas famílias, na grande parte dos casos, de baixa renda. O trabalho voluntário é muito útil por dar atenção e promover assistência a essas famílias, evitando que seus filhos voltem a ser internados na unidade.

Para entender o uso do trabalho voluntário e sua importância, tanto para a instituição como para o voluntário, o Olhar Virtual conversou com Dores Lacombe, idealizadora do Projeto Recomeçar e com Patrícia Vilela, aluna da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), que relatou suas experiências.

Dores Lacombe
idealizadora do Projeto Recomeçar

“A filosofia do trabalho é muito bonita e vem de uma grande vontade de querer olhar para o outro. Queria poder dedicar meu tempo à criança pós-alta, que vai para casa com um receituário caro e a necessidade de uma alimentação especial. Na maioria dos casos essa criança volta para o hospital e acaba entrando em um círculo de alta-reinternação. Captamos essas crianças ainda no hospital, através de uma assistente social e elas passam a receber remédios, um leite especial, cesta básica para a família, alimentação e até brinquedo.

As mães começam a freqüentar reuniões e palestras sobre diversos temas, desde cidadania a assuntos médicos, com orientação de nossos voluntários. Além de cursos profissionalizantes que oferecemos. As mães, e não apenas as crianças, tornam-se matérias-primas do nosso trabalho. É muito gratificante poder levantar a auto-estima delas e o bem estar de toda a família, que fica conosco por um período de seis meses, que pode vir a ser prolongado por outros seis.

A importância do voluntariado para nós é total, pois a sustentabilidade de uma ONG é muito difícil. É complicado conseguir convencer profissionais muito necessários para nós, como assistentes sociais e administradores, a trabalhar de graça, visando apenas uma boa causa. Os pontos positivos do trabalho voluntário são refletidos claramente no setor financeiro, pois são cortados gastos com salários e encargos. Além do corte de despesas é muito interessante poder ver a dedicação e o esforço das pessoas que se interessam e abraçam a causa de coração. Os voluntários sempre têm o que acrescentar ao projeto.

Pontos negativos existem vários e acredito que o maior deles é o fato de alguns voluntários não se sentirem obrigados a nada, não assumirem um compromisso real, o que gera uma grande rotatividade do quadro de voluntários. Existe ainda a questão geográfica, pois muitas pessoas admiram o projeto, mas não se disponibilizam para comparecer à Ilha do Fundão, por motivos de distância. É preciso muita psicologia e habilidade para conseguir manter o voluntário sempre interessado, com a chama sempre acesa, o que acaba sendo mais fácil se o voluntário está trabalhando conosco porque gosta.

Quando conheço um “candidato a voluntário” tenho o hábito de contar a fábula do passarinho que carrega água no bico, pouco a pouco, para ajudar a apagar um incêndio e que quando questionado sobre a serventia do seu esforço, tem certeza de estar fazendo a sua parte. Depois de contada a história, pergunto se ele deseja fazer parte deste bando, que está levando solidariedade, atenção, amor e carinho para esta gente que não foi escolhida para nada, se ele deseja fazer a sua parte. Tenho certeza que se estiver realmente interessado voltará.

Despertar pessoas para o trabalho voluntário tem se tornado uma militância importante para todos. Está nas mãos de pessoas com disposição e amor ao próximo se doar, tentar ajudar e melhorar o outro, seja ele criança, moço, velho, sadio ou doente ”

Patrícia Vilela
aluna de Jornalismo

“Tive minha primeira experiência como voluntária em 2000, quando trabalhei no grupo jovem de minha igreja. Fazíamos visitas a orfanatos e asilos levando um pouco de carinho e atenção a pessoas que, por diversas vezes, são abandonadas por seus familiares e amigos. Trabalhar com essa equipe foi muito importante, pois pude dedicar um pouco do meu tempo em prol de uma causa social e religiosa, que eu realmente acredito ser especial.

Ainda pela minha igreja, trabalho atualmente com o Núcleo de Reportagens que alimenta o site, cobrindo eventos religiosos e de cunho social. Além de ser muito gratificante poder ajudar o bom funcionamento do site com o meu trabalho e esforço, isso conta para mim como uma experiência profissional, pois estou tendo a oportunidade de atuar dentro da minha área, fazendo algo que eu gosto e que me faz sentir bem.

O voluntariado tem dois lados: um completamente altruísta, como meu trabalho desenvolvido como forma de agradecimento a Deus; e outro ligado a interesses profissionais, como o que realizei nos Jogos Pan-americanos.

Interessei-me desde o início em participar do evento, mas com o surgimento da oportunidade de trabalhar na área de imprensa fiquei ainda mais animada. Poder conhecer pessoas novas, fazer contatos e praticar minha profissão, enquanto ainda estou na faculdade, foi para mim essencial.

Além de ter acrescentado um dado atraente ao meu currículo e ter vivido intensamente um evento tão importante, foi muito recompensador poder sentir-me especial para o sucesso dos jogos, sentir-me necessária para que as coisas funcionassem bem.

Aprendi muito com minhas experiências como voluntária e recomendo a todos que tentem, pelo menos uma vez, se doar por uma causa na qual acreditem. Depois do meu primeiro contato com o trabalho voluntário tenho certeza que continuarei, na medida do possível, alimentando essa idéia.

Acredito que o voluntariado mostra pró-atividade, e é isso que grandes empresas têm procurado em seus funcionários. Não é porque fui voluntária que não tive responsabilidades, muito pelo contrário. Poder cumprir minhas funções com satisfação e competência fez de mim não só uma melhor profissional, como também uma melhor pessoa."

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