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Edição 171      14 de agosto de 2007


No Foco

Redação de Vestibular sem mistérios

Nathália Perdomo

foto no foco

Ortografia impecável, concordância, coerência, coesão. Tudo como manda o figurino. Parágrafos com tantas linhas, orações subordinadas, coordenadas, subordinadas. Quanta subordinação! Os gramáticos adoram, exclamam! E o valor sócio-ideológico da redação? E a idéia, muitas vezes, genial, do aluno?

A redação no vestibular é vista, por muitos candidatos, como um bicho-de-sete-cabeças. Afinal, não há nenhuma grande fórmula que garanta seu sucesso. Marcelo Corrêa e Castro, decano do CFCH e professor da Faculdade de Educação da UFRJ esteve à frente da comissão de avaliação durante seis anos e comentou que o desafio da prova de redação e da prova discursiva, em geral, é a subjetividade. Portanto, na hora da correção há necessidade de se trabalhar com elementos que avaliem a capacidade do estudante de articular idéias.

A atual supervisora geral da comissão de avaliação das provas de língua portuguesa, literatura brasileira e redação e professora da Faculdade de Letras, Silvia Rodrigues Vieira, considera que a intersubjetividade é a condição para a construção textual. “O texto se constrói a partir de uma intersubjetividade entre quem o produz e quem o lê. Vale ressaltar que essa subjetividade não remete a um texto aleatório, impreciso.” Por isso ainda que a fronteira entre os aspectos formais e temáticos seja, por vezes, tênue, forma e conteúdo ocupam espaços bem delimitados na avaliação das relações do vestibular da UFRJ.

Segundo Marcelo, nos ensinos fundamental e médio a produção textual é muito pouco trabalhada e é limitada à redação, que é tratada, muitas vezes, como produto escolar objetivado. Nessa etapa, pouco se discute sobre os princípios lingüístico-pedagógicos e a lógica do certo e errado impera. “O aluno não aprende a fazer uma interpretação, não associa o dito pelo não dito. Ele aprende a adivinhar a interpretação que o professor já fez” — critica.

A grade de correção para a prova de redação do vestibular foi implantada a partir do ano em que esta passou a ser eliminatória. De acordo com o decano, o intuito era “desbastar” aquela grande quantidade de candidatos, no entanto, menos de mil vestibulandos foram desclassificados do concurso.

A grade compreende cinco itens básicos. O tipo de texto — dissertativo argumentativo — deve constituir-se pela exposição de idéias acerca de um tema, preferencialmente, a partir da defesa de um ponto de vista. O tema avalia se o aluno se apropriou corretamente do assunto e como fez a progressão temática. “A prova de redação da UFRJ sempre traz trechos para colaborar com a fundamentação e o encaminhamento do candidato”, comenta Silvia. O vestibulando não pode zerar esses dois itens e de acordo com Marcelo é fundamental seguir a proposta da prova. “Às vezes, o estudante faz uma linda redação, em forma de poesia ou carta, por exemplo, porém, por não dissertar sobre o que foi solicitado é desclassificado”.

Coerência e coesão textual também fazem parte do repertório. O primeiro quesito envolve a conexão das idéias, a inteligibilidade do texto, a lógica das argumentações, enquanto o segundo avalia a conexão formal: pontuação, paragrafação, conectivos, elementos anafóricos. Um último item é o domínio da modalidade culta escrita da língua, que inclui convenção ortográfica, concordância, seleção vocabular adequada. “No entanto, não se esperam idealizações excessivas. Os sóciolingüistas concordam com a adequação da norma culta ao gênero textual em questão, a redação escolar”. Em outras palavras, é válido atentar para um certo padrão na produção do texto, sem recair em preciosismos.

“Se o aluno tentou fazer uma exposição de idéias, ainda que tenha lançado mão de uma linguagem coloquial e inserido elementos da narração, ele não é desclassificado. A menos que se faça um poema, por exemplo. Apesar de avaliarmos item por item, sempre pensamos no conjunto” — explica Marcelo.

A banca avaliadora que é composta, em média, por 90 professores do ensino médio e da universidade passa por um treinamento para discutir e ajustar os critérios. Em princípio, dois avaliadores de grupos e supervisores distintos fazem a correção. Caso haja discrepância de mais de dois pontos na nota, outros dois professores analisam e chegam ao resultado final. Segundo Silvia, a discrepância nas notas vem diminuindo a cada ano. Ela associa esse fato à eficiência da grade de correção. Outro sucesso e diferencial do vestibular da universidade vem da “capacidade de estabelecer uma interlocução acadêmica e ética com o que vem antes dela: a escola” — conclui o decano.

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