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Edição 169      31 de julho de 2007


No Foco

Se música é vida, a Escola de Música da UFRJ é imortal

Kadu Cayres

foto no foco

Quem diz que ser idoso significa ser velho, improdutivo e fora de moda, desconhece a história da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EM/UFRJ). Criada em 1848, por um grupo de artistas, entre os quais se destacavam Francisco Manoel da Silva e Fortunatto Mazziotti, a EM completa, no próximo dia 13, seu 159º aniversário, esbanjando produtividade, criatividade e competência.

Seu ponto de partida, em 1848 como um conservatório de música, foi graças à vontade de profissionais que se preocupavam com a perpetuação da arte por meio do ensino sistemático. Mesmo sustentada em ideais eloqüentes, não conseguiu garantir o pleno funcionamento (possuía sede imprópria e atuava de forma precária em seus primeiros anos), sendo anexada à Academia de Belas Artes, ficando sob a tutela do governo imperial.

Com a República, a educação musical voltou a ser considerada elemento estratégico e o antigo Conservatório foi reformado, dando lugar, em 1890, ao Instituto Nacional de Música (INM), tendo à frente o compositor Leopoldo Miguez. O INM, como instituição independente, atravessou toda a chamada República Velha. Em 1931, nos primeiros anos do governo Vargas, foi agregado à Universidade do Rio de Janeiro e passou por profundas reformas curriculares. Durante o chamado Estado Novo, em 1937, o ensino universitário foi mais uma vez reformado, surgindo a Escola Nacional de Música como uma das unidades da Universidade do Brasil. A última reforma ocorreu em 1967, durante o governo militar, quando passou a ser chamada de Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nesses 159 anos de existência, passaram pela Instituição alguns importantes músicos brasileiros, entre eles Francisco Braga (autor do Hino à Bandeira), Antonio Carlos Gomes (compositor), Joaquim Antônio da Silva Callado (flautista). Dentro do quatro de docentes estiveram presentes respeitados nomes do meio musical como, por exemplo, Alberto Nepomuceno, Francisco Braga, Lorenzo Fernandez, José Siqueira, Iberê Gomes Grosso e Arnaldo Estrela.

Satisfação em fazer parte

Vários docentes manifestaram-se lisonjeados em fazer parte da história de uma escola que atravessou três séculos. O professor André Cardoso, atual diretor, e Inácio De Nonno, professor do departamento de Vocal, foram alguns deles.

Na opinião de André Cardoso, participar de uma instituição com essa idade, é uma dupla responsabilidade, devido à obrigação de saber mesclar a contemporaneidade em que uma escola de música precisa estar inserida com toda a sua tradição histórica.

— Se observarmos bem, poucas escolas de música, no Brasil, conseguiram atravessar três séculos. A nossa escola foi fundada cento e cinqüenta nove anos atrás, e sobrevive até hoje com todos os desafios que nos colocam. A sua trajetória é confundida com a história musical brasileira. Grandes musicistas passaram por aqui como alunos ou professores. Logo, acrescentar a esse histórico, modernidade, é uma grande responsabilidade.

André ressaltou, também, que a excelência da EM se reflete na colocação de seus alunos no mercado de trabalho, entre outras coisas. “As orquestras brasileiras e bandas profissionais estão repletas de profissionais egressos da escola. Eu acho que continuamos a ser uma escola de formação de músicos, e é isso que a sustenta e a sustentará”.

Para Inácio De Nonno, professor da escola há 14 anos, é muito satisfatório lecionar em um dos mais antigos estabelecimentos de ensino superior de música do país.

— Tenho orgulho de fazer parte de uma escola que tem como grande dever, manter a qualidade do ensino sem deixar de perpetuar o conceito conquistado — disse o professor, acrescentando um elogio à nova direção: “a direção da EM tem nas mãos a responsabilidade de retomar as ‘rédeas’ da instituição e reerguê-la após quatro anos de uma conturbada administração. O professor André Cardoso conseguiu reunir uma equipe do mais alto nível profissional, cada um com competência específica para gerir seus departamentos, além de ter grande força de trabalho e, sobretudo, amor pelo que faz e pela instituição”.

Aspectos negativos

Apesar das palavras agradáveis e de destacar a importância da escola, o diretor André Cardoso apontou problemas que precisam ser superados como, por exemplo, a complicação com a grade curricular. “Tanto os currículos do bacharelado quanto os da licenciatura estão com problemas na sua implantação e aplicação. Isso precisa ser resolvido com urgência, pois causa transtorno aos alunos, não apenas na execução do currículo, mas também na hora de colar grau”.

Outro fator crucial – ressaltado por André – que atrapalha demasiadamente o desenvolvimento das atividades acadêmicas e artísticas da Escola de Música é a falta de infra-estrutura. Situada num prédio histórico (o prédio de aulas é de 1913 e o de concertos, 1922) projetado para uma escola de quase dois séculos atrás, a EM é obrigada a manter-se dentro de um espaço que sufoca seu crescimento – a infra-estrutura é a mesma de hoje. Não houve nesse tempo, a criação de um espaço que acompanhasse seu desenvolvimento. O número de alunos e cursos cresceram, e o espaço físico permaneceu intacto.

Inácio De Nonno reforçou o dito por André: a Escola cresceu, mas o espaço físico é basicamente o dos tempos de sua criação. “É mais do que urgente a reforma do prédio de aulas, sua ampliação e adequação para o ensino de música. Apenas para se ter idéia, temos ainda, infelizmente, locais separados por folhas de eucatex (chapas duras de fibra de madeira de eucalipto). Isso é péssimo”.

Comemorações

A organização da série de concertos ficou por conta da professora Maria José Chevitarese, diretora artística da escola. Segundo André Cardoso, Maria Chevitarese partiu dos próprios conjuntos de alunos da escola para fazer uma programação de concertos durante toda a próxima semana (de 13 a 17 de agosto). Foram criadas duas séries: uma já tradicional, às 18h30; e outra alternativa, às 12h30, que acontecerá na entrada da Escola, visando atrair a atenção do público externo para os bons concertos exibidos.

O mais importante nessa semana será a reabertura do Salão Leopoldo Miguez. Mesmo com as obras inacabadas, as apresentações das 18h30min serão realizadas nele. — Ele é o coração das atividades artísticas da Escola de Música, logo não podia ficar de fora — afirma André, torcendo para que o público, como todos os anos, volte a prestigiar os concertos da escola, que ultimamente ficou fora do circuito devido às obras no salão.

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