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Edição 134      05 de outubro de 2006


Olho no Olho

Movimento estudantil, uma força em declínio

Aline Durães

imagem olho no olho

As primeiras organizações nacionais do movimento estudantil aparecem já no início do século XX, em 1901, com a criação da Federação dos Estudantes Brasileiros. Mas foram os acontecimentos políticos da Era Vargas (1930-1945) que impulsionaram a formação de entidades estudantis engajadas em mobilizações sociais. A União Nacional dos Estudantes (UNE), por exemplo, consolidada em 1937, já nasce com o propósito primeiro de centralizar as ações dos discentes e de fazer frente ao crescimento do nazi-fascismo no país.

Na década de 60, em particular depois de instaurada a Ditadura Militar (1964-1985), o movimento estudantil atingiu o seu ápice de manifestações e, por vezes, confundiu-se com o movimento nacional de resistência ao governo e de luta pelas liberdades democráticas. Não raro, a expressão contestadora das organizações estudantis se traduziu em greves gerais de alunos e em atos públicos, violentamente reprimidos pelas forças militares.

Com o fim da Ditadura e com o restabelecimento da democracia, a atuação do movimento estudantil se abrandou; o episódio do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello foi a última grande manifestação, em âmbito nacional, realizada pelos estudantes. Muitas reivindicações do movimento, no entanto, permaneceram inalteradas ao longo dos anos; a autonomia universitária, o aumento no número de vagas nas universidades públicas e a paridade nas eleições dos colegiados são algumas das bandeiras ainda hoje defendidas pelos alunos.

Apesar de as reivindicações se manterem, as mobilizações perderam intensidade, o que denuncia o enfraquecimento dos movimentos estudantis, hoje, mais apáticos e menos atuantes. Para comentar as possíveis razões desse quadro, o Olhar Virtual entrevistou Almir Fraga, decano do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e membro do Diretório Central de Estudantes Mário Prata (DCE/UFRJ) na década de 60, e Alex Lima, estudante do 5º período de Ciências Contábeis e atual diretor de Administração e Finanças do DCE.

 

Almir Fraga
decano do CCS

"Não se pode avaliar se o movimento estudantil está ou não mais fraco hoje, pois as conjunturas, nacional e internacional, mudaram. Na década de 60, o mundo era polarizado e o estudante tinha uma facilidade maior de identificar as pessoas a quem devia se opor política e ideologicamente. Os estudantes se organizavam, principalmente, para se posicionarem ideologicamente em relação às sociedades dominantes no mundo; o inimigo era muito evidente: o Estado que dominava, o poder que dominava. Eles tinham reivindicações muito específicas dentro da luta contra a dominação e, no caso do Brasil, contra a Ditadura Militar.

O mundo perdeu a bipolaridade e a democracia fez com que o indivíduo não precisasse se organizar para brigar pelos seus direitos. Hoje, é mais permitido à sociedade e ao estudante, inclusive, negociar os seus direitos e reivindicações. Parece que o movimento perdeu força, mas não posso afirmar que ele realmente perdeu. Algumas ações atuais do movimento estudantil mostram que ele continua tendo força. Não faz muito tempo o movimento estudantil lutou pelo impeachment de presidentes e contra o aumento das passagens de ônibus.

Entendo que, no momento, existem possibilidades democráticas dentro dos ambientes desses estudantes, ou seja, universidades e escolas. Eles podem hoje negociar em vez de lutar, mas acredito que, se for necessário, eles irão lutar também."

Alex Lima
estudante de Ciências Contábeis e diretor de Administração e Finanças do DCE

“O movimento estudantil está mais fraco, devido, principalmente, ao partidarismo. Hoje, a intervenção dos partidos políticos nos movimentos é grande, o que desestimula os alunos a participarem e a contribuírem com a nossa causa. Um congresso da UNE, por exemplo, é todo dividido em partidos e em alas políticas; isso afasta os estudantes, já que, atualmente, eles não têm uma ideologia própria. Não há mais políticas voltadas diretamente aos interesses dos alunos e às melhorias dentro da universidade; predominam os interesses partidários.

O atual panorama político também enfraqueceu muito o movimento estudantil, porque esse grupo sempre esteve muito ligado às causas da esquerda e acabou se decepcionando, como boa parte da população, com a chegada da esquerda ao poder. Os estudantes se sentiram frustrados com todos os escândalos de corrupção que se verificaram ao longo dos últimos quatro anos.

Outro fator responsável pelo abrandamento do movimento estudantil foi o enfraquecimento da educação básica e a conseqüente elitização do Ensino Superior. O perfil do estudante hoje é diferente. Antes, existia uma parcela maior de estudantes provenientes de escolas públicas, pois elas eram fortes. Os alunos tinham uma inclinação maior à luta e às reivindicações. Hoje, as universidades públicas estão cheias de alunos da elite, que não precisam de alojamentos, bolsas-auxílio ou restaurantes universitários e, por isso, não têm muito que reivindicar."

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