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Edição 133      28 de setembro de 2006


Resenha

Quem somos nós, os Wari’ encontram os brancos

capa do livro

Por: Francisco Conte

Embora tenham sido avistados pela primeira vez no séc. XIX próximos ao rio Paccás Novos, afluente do Mamoré, atual Estado de Rondônia, data apenas de cinqüenta anos o primeiro contato pacífico com os Wari’. Os sucessivos encontros desse grupo com os brancos durante o processo de pacificação servem de “eixo etnográfico” para que Vilaça, professora do Museu Nacional (MN) da UFRJ e pesquisadora do Núcleo de Transformações Indígenas do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS), do MN, construa um dos mais impressionantes estudos sobre os vínculos entre populações indígenas que habitam o território brasileiro e a sociedade nacional, usualmente percebidas apenas a partir do pólo étnico dominante. As terras baixas da América do Sul constituem um campo privilegiado para esse tipo de estudos não somente pela riqueza documental, mas, sobretudo, porque os grupos étnicos indígenas da região permaneceram, como o caso dos Wari’, relativamente isolados até o início do século passado.

A forma como os Wari’ reelaboram criativamente seu sistema simbólico de relações de alteridade para dar conta dos novos atores surgidos desses contatos mostra, como sublinha Eduardo Viveiros de Castro na orelha do livro, que às populações indígenas são capazes de construírem alternativas culturais que vão além da mera submissão ou da tenaz resistência.

O texto, que é uma versão modificada da tese de doutorado de Aparecida Vilaça, defendida no PPGAS, em 1996, está organizado em três partes. A primeira discute o modo como os wari’ experimentam a alteridade e como construíram um conjunto de categorias para dar conta dela, com destaque para o exame das posições de estrangeiro e de inimigo, e da forma como o branco nele se insere. Na segunda, a discussão dessas posições de alteridade, acrescida da de afim/cunhado, é retomada por meio da análise de quatro mitos, e situada no quadro conceitual mais amplo da mitologia dos índios que habitam as terras baixas sul-americanas proposto inicialmente por Lévi-Strauss em Mitologias. A terceira descreve do processo de pacificação, a partir da perspectiva wari´, embora lance mão, também, de documentos e narrativas dos brancos. Um capítulo final mostra como as categorias de alteridade formuladas pelos wari’, e analisadas anteriormente, são atualizadas quando passam a viver ao redor de postos da Fundação Nacional do Índio (Funai) e se tornam conterrâneos de estrangeiros e inimigos.

Autor: Aparecida Vilaça

Editora UFRJ

Ano: 2006

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