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Edição 130      06 de setembro de 2006


Resenha

Os povos do Alto Xingu: história e cultura

capa do livro

Por: Francisco Conte

O Alto Xingu, estado do Mato Grosso, coração do Brasil, povoa o imaginário brasileiro, desde que as viagens de Karl von Steinen, no final do século XIX, estabeleceram os primeiros contatos documentados de europeus com populações indígenas daquela região. Prevalece, porém, uma visão estereotipada daquelas populações. Mesmo a produção acadêmica, que desenvolveu um importante acervo de contribuições sobre os povos que a habitam, apresenta lacunas importantes. Em especial, como destacam os organizadores na introdução da obra, carecemos de estudos etno-históricos que relacionem os povos indígenas contemporâneos tanto ao seu passado colonial, como ao anterior à expansão ocidental no continente americano.

Essa lacuna não se explica apenas pelo brutal genocídio e pela migração forçada a que foram submetidos, mas em grande parte denuncia a predominância, durante décadas, de abordagens a-históricas e comparativas no campo da antropologia. Lastimável, sem dúvida, pois o Alto-Xingu é uma das poucas regiões das terras baixas sul-americanas em que se pode delimitar com razoável precisão uma continuidade histórico-cultural de envergadura.

O livro reúne quinze artigos de antropólogos, arqueólogos, e lingüistas renomados, com larga experiência em suas respectivas áreas de conhecimento, e os divide em duas partes, que constituem seus eixos temáticos. A primeira se debruça sobre aqueles povos a partir de uma perspectiva regional e considera suas relações com áreas mais distantes. A segunda focaliza padrões culturais e históricos de comunidades intimamente relacionadas.

A partir da noção de que a cultura e a história desses povos se condicionam mutuamente, os estudos contribuem para evidenciar uma entidade sociocultural distinta, coexistente à região da bacia do Alto-Xingu, ainda que o Parque Indígena do Xingu impusesse para muitas dessas populações limites menores dos que seus territórios originários. Isto permite falar de uma cultura xinguana fortemente demarcada e historicamente distinta. Séculos de “contato” com o Ocidente não resultaram, portanto, em degradação, assimilação ou decadência, mas na reafirmação, em novas bases, dessa identidade cultural.

Organizadores: Bruna Franchetto e Michael Heckenberger

Editora UFRJ

Ano: 2001

496 páginas

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