Coordenadoria de Comunicação do Gabinete do Reitor - UFRJ www.olharvirtual.ufrj.br

Edição 129      31 de agosto de 2006


Olho no Olho

O caminho da expansão universitária

Aline Durães

imagem olho no olho

O presidente Luís Inácio Lula da Silva tem divulgado, em seu programa de governo, a proposta, aprovada pelo Executivo, de criação de dez novas instituições federais de Ensino Superior. Duas delas resultarão do desmembramento de universidades já existentes, seis vão ser instituídas a partir da transformação de escolas de especialização e duas serão construídas com base em projetos originais.

A criação das universidades é, de acordo com o governo, uma tentativa de ampliar o número de universitários no país. Atualmente, apenas cerca de 10% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos cursam o Ensino Superior. Esse índice é inferior ao de nações com taxas de desenvolvimento menores que o Brasil, como é o caso, por exemplo, da Argentina e do Equador.

Para alguns, no entanto, o governo peca ao investir em novas unidades de ensino. Segundo os críticos da proposta, as universidades públicas federais existentes sofrem constantes cortes orçamentários, o que inviabiliza o crescimento dessas instituições. O ideal seria então utilizar os recursos destinados à implantação do projeto na manutenção das universidades já consolidadas.

Para comentar essa questão, o Olhar Virtual entrevistou Luiz Davidovich, professor do Instituto de Física (IF) e diretor da Academia Brasileira de Ciências, e Walter Suemitsu, decano do Centro de Tecnologia (CT). Confira abaixo a opinião dos dois docentes.

Luiz Davidovich
Professor do Instituto de Física e diretor da Academia Brasileira de Ciências

"É importante expandir o Ensino Superior público no Brasil. Uma das formas de expansão é a criação de novas universidades e isso é muito significativo, especialmente tendo em vista que, nos períodos anteriores, houve um crescimento das universidades privadas de baixíssima qualidade, enquanto que o sistema público ficou praticamente estacionado.

É preciso entender, no entanto, que a grande expansão do Ensino Superior público não se fará apenas através de universidades. É preciso haver modelos alternativos. Em outros países, verificamos que a população de Ensino Superior dobrou com a diversificação do sistema educacional. Essa diversificação ocorreu através de colégios universitários. Os colégios oferecem cursos de dois ou três anos e não levam os estudantes, necessariamente, a profissões definidas. Os cursos podem formar tecnólogos ou dar uma formação superior mais geral, aumentando o nível educacional da população. Esse sistema é ainda flexível, pois permite ao aluno, depois de ele ter terminado o curso, entrar no mercado de trabalho ou se transferir para o terceiro ano de uma universidade.

As falhas do nosso sistema educacional exigem que novos métodos sejam pensados. Pensa-se, freqüentemente, que o modelo da UFRJ deve ser replicado pelo país. Isso exigiria muitos recursos e seria caro. Ao defender essa idéia, estamos dizendo ao governo que só existe uma opção. A moral da história é a multiplicação de instituições privadas, que cumprem, perversamente, o papel de diversificar o Ensino Superior brasileiro; papel esse que deveria ser do Estado.

Não é possível aumentar o número de jovens universitários utilizando, para isso, o modelo de universidade que conhecemos. Devemos, sim, criar novas universidades, pois temos poucas, mas eu acho que o governo deveria se empenhar para criar alternativas que possam competir com as instituições particulares de baixa qualidade."

Walter Suemitsu
Decano do Centro de Tecnologia (CT)

“Essa é uma questão muito difícil. É claro que a atitude do Ministério da Educação de criar mais vagas para o Ensino Superior público é louvável, mas, por outro lado, esse órgão não pode se esquecer das universidades já existentes e das dificuldades que assolam essas instituições.

Da forma como a criação dessas universidades está sendo proposta, o governo vai deixar de investir nas instituições que já existem e não poderá resolver problemas que, há muito, fazem parte do cotidiano das universidades.

O mais aplicado, nesse caso, seria o MEC aumentar os recursos globais reservados à educação de nível superior. O aumento de vagas e a criação de universidades devem acontecer, mas os recursos para as atuais não podem ser esquecidos. O MEC poderia buscar verbas em outros ministérios, como o de Ciência e Tecnologia, por exemplo, e destiná-las para a educação.

A opção de interiorizar universidades já consolidadas pode ser muito mais eficiente do que gerar novas instituições de Ensino Superior. O Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (Nupem), por exemplo, levou a UFRJ a ser mais conhecida no interior do estado e ajudou na formação dos estudantes, através das ações de Extensão Universitária.

Hoje, vários alunos e pesquisadores de mestrado e doutorado atuam junto ao Nupem, em atividades relacionadas, principalmente, à colônia de pescadores em Macaé. Isso possibilita uma integração muito grande entre as unidades. Esse tipo de experiência, riquíssima para os discentes, é mais difícil de ser implantado em uma universidade nova do que em uma já estabelecida."

Anteriores