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Edição 126      10 de agosto de 2006


Olho no Olho

Israel x Líbano: uma guerra desigual

Bruno Franco

imagem olho no olho

O Forum de Ciência e Cultura e a Coppe/UFRJ promoveram, dia 7 de agosto, no auditório do PEnO, o debate “Os ataques de Israel ao Líbano e suas repercussões internacionais”. O evento, mediado pelo professor Luiz Pinguelli Rosa, contou com a presença do professor Paulo Geiger, do Centro de História e Cultura Judaica, do professor Francisco Carlos Teixeira, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS / UFRJ) e do professor Fernando de Souza Barros, do Instituto de Física da UFRJ, que forneceram análises factuais e humanísticas do grave conflito que aflige o Oriente Médio.

 

 

 

 

Francisco Carlos Teixeira
professor do IFCS

“O Estado libanês estava em processo de reconstrução, que implicava na reconfiguração de suas estruturas, inclusive Forças Armadas. Isto só foi possível com a retirada das tropas sírias, graças a um acordo extra-ONU, mediado pela França e pelos Estados Unidos. Este pacto teve duas grandes falhas: retirava as tropas de forma extremamente rápida sem sua substituição por uma força equivalente. O Exército libanês não possuía recursos para fazê-lo e era de se esperar que algum grupo ocupasse esse vazio. É o que fez o Hezbollah. A segunda falha foi a não retirada israelense de uma parte do território libanês, conhecido como Fazendas de Shebaa, que nem sequer foram reconhecidas como território ocupado. Tampouco foi prevista uma troca de prisioneiros entre Israel e Líbano. Essas falhas estruturais prenunciavam problemas futuros.

Estados Unidos e União Européia entraram em um processo de pressão muito forte sobre dois países que têm intensas relações com o Líbano e o Hezbollah: Irã e Síria. Estas nações perceberam no Hezbollah uma forma de deslocar o centro de pressão criando outra área de atrito. Isto pôs em xeque a decisão norte-americana de não negociar com estes dois países, que voltam a ser agentes políticos centrais.

Este conflito mostra que um poder tecnologicamente superior pode ser batido por um adversário com menos recursos. Haifa está paralisada, e é um “pulmão” para Israel. E os kibtuzim do Norte também estão com sérias dificuldades financeiras. Agora é boots on the ground (envio de tropas), porque não há como a inteligência descobrir plataformas de lançamento de katyushas (foguetes utilizados pelo Hezbollah)”.

Fernando de Souza Barros
professor do Instituto de Física

“Quando os Estados Unidos declararam, oficialmente, guerra ao terrorismo, isto implicou na violação futura das leis sobre conflitos bélicos. O que significa guerrear contra uma força sem território, uma força que não pode se render? Isso significa o poder norte-americano de violar qualquer tratado internacional.

Infelizmente, Israel aceitou desempenhar um papel nessa batalha, que se confunde equivocadamente com os embates existentes no Oriente Médio. O Estado judaico assume uma função destacada nessa política norte-americana de segurança, prejudicando seus próprios interesses na região.

A emergência do Hezbollah é a conseqüência inevitável de uma solução não-negociada do conflito anterior no Líbano, que ignorou demandas territoriais e políticas.

A violência — quaisquer que sejam suas causas — é algo contra em que qualquer pessoa possa se voltar. A sua negação é uma bandeira universal. O repúdio à guerra levou à necessidade de diversas áreas acadêmicas se manifestarem sobre o assunto. Com isto, nos reunimos e elaboramos o Manifesto Brasileiro contra a Guerra no Líbano. Tivemos a oportunidade de levar este manifesto a diversos colegas, recebendo um número expressivo de adesões (dezenas de professores da UFRJ, diretores de suas unidades, e, inclusive, o reitor, professor Aloísio Teixeira).

Quando populações civis são bombardeadas, não importa qual o pretexto, a pior anuência é o silêncio."

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