Coordenadoria de Comunicação do Gabinete do Reitor - UFRJ www.olharvirtual.ufrj.br

Edição 126      10 de agosto de 2006


Ponto de Vista

Urbanismo e Educação

Fernando Pedro

imagem ponto de vista

É possível pensar uma educação voltada para formar futuros vizinhos; que tratasse dos direitos e deveres do cidadão perante o espaço público; que destacasse as construções que valorizam o espaço comum? Para o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e arquiteto da Prefeitura do Rio (SMU-PCRJ), Pedro Lessa, a “Educação para a Cidade” é um projeto que já saiu do papel. Baseado em sua vivência como arquiteto da Secretaria Municipal de Urbanismo, Lessa desenvolve desde 2005 , em parceria com a Secretaria de Educação, trabalho de educação urbana junto a alunos da rede pública de Ensino Fundamental. Ele fala ao Olhar Virtual sobre a importância de ampliar os laços entre urbanismo e educação.

“Com o grande crescimento das populações urbanas, a criança e o jovem, mais do nunca, precisam ser despertados para perceber sua cidade como um lugar que muda, que pode ser transformado e melhorado pelas pessoas, um lugar onde se pode ter esperanças e uma vida melhor. A escola formadora de cidadãos é o melhor ambiente para se falar com a criança e o jovem sobre a cidade e sobre como torná-la mais humana.

No Brasil, é novidade reunir educadores e urbanistas para desenvolver um modo de educar que aproxime a criança e o jovem dos meios que dispomos para o direcionamento e o controle da cidade.

Não faz muito tempo, os mundos da Pedagogia e do Urbanismo eram distantes e incomunicáveis. Era quase impossível pensar em uma Educação para a cidade.

Para compreender a oportunidade da ação educativa no que se refere ao urbanismo, convém lembrar que nos últimos cinqüenta anos a urbanização das grandes cidades brasileiras se deu de forma rápida e pouco planejada. Isto resultou em enormes transformações para o cotidiano de toda a população, com maiores privações para as parcelas mais pobres.

Para essas camadas, as transformações trouxeram como conseqüência a dificuldade de acesso à moradia, a inadequação do transporte público e dos demais itens de infra-estrutura. Além disso, após a década de oitenta, como reflexo das políticas globalizadas, a oferta de emprego começou a encolher e cresceu o número de pessoas que vivem em ocupações, em áreas irregulares, e trabalham na informalidade.

Na busca de reflexão e respostas a esses desafios, devemos estar abertos a novos olhares sobre nossas cidades e, em especial, sobre o cidadão que estamos formando para nelas viver.

A cidade é um ambiente totalmente produzido pelo homem. Ninguém conhece este ambiente por inteiro, e todos têm sempre o que aprender, de modos de vida a códigos de convivência. Há, portanto, motivos que reforçam a necessidade de uma educação para a cidade.

Como acreditam os educadores progressistas, o envolvimento dos alunos com a cidade é insubstituível. Logo, é preciso proporcionar aos estudantes a necessária interação com a realidade da cidade em que vivem.

Quem pensa despertar no aluno um comportamento crítico sobre a cidade existente precisa considerar a inércia e o peso de idéias conservadoras, entre elas, a de que o cidadão comum nada pode com relação ao futuro da cidade e mesmo do bairro. A sociedade brasileira, mais de 10 anos depois da nova Constituição, ainda não se deu conta das possibilidades da democracia urbana.

Um aspecto que a educação deve prevenir e trabalhar é o modo desequilibrado como os deveres da cidadania urbana se impõem sobre a população e preponderam sobre os direitos, proporcionando uma visão deformada da cidadania.

A maioria da população, só na fase adulta — ao querer, por exemplo, alugar uma moradia — toma conhecimento da existência de uma das duas dimensões da cidadania urbana: a das obrigações de quem se responsabiliza por um imóvel. Sobre a outra dimensão, os direitos de quem vive na cidade, quase não se fala e há pouca tradição em sua exigência. Esse é um tema da Educação Urbana. Ela deve informar a reciprocidade das obrigações e direitos e desenvolver, em especial, a divulgação destes últimos. Só assim eles podem começar a existir na prática: direitos só ganham vida quando as pessoas os conhecem, os sentem como seus e se dispõem a exercê-los.

A pedagogia urbana deve basear-se nos novos papéis e espaços que a democracia abriu para os cidadãos brasileiros. É a necessidade da sociedade — como um todo — reagir ao descontrole urbano e à desesperança de vida que torna oportuna a aproximação de urbanistas e educadores. A prática mostra que, isolados em seus ofícios e instrumentos — de propor cidade e de formar novos cidadãos — eles têm um horizonte limitado de possibilidades.

Se não estivermos sintonizados com os vários avanços da sociedade no campo das questões urbanas, não estaremos aptos a propor os jovens-cidadãos como atores da cidade que queremos, a defender sua inclusão como sujeitos na definição dos planos e projetos de interesse para a coletividade, a capacitá-los como “falantes” nos debates das questões urbanas.

Quem hoje é criança ou jovem vem, desde já, sendo alvo de políticas públicas ou sendo vítima de sua ausência. Em poucos anos — já como adultos — serão moradores, comerciantes, empresários, empregados, funcionários, assumindo uma nova ligação particular com a cidade.

A Educação Urbana deve contribuir para preparar cada um para o exercício de convivência no espaço público. Deve mostrar a necessidade do indivíduo se deslocar para a ótica do coletivo; deve sensibilizar a todos sobre a interferência das construções privadas ou públicas sobre a qualidade do espaço público; deve acentuar a necessidade de preservar o patrimônio cultural, as áreas livres e o ambiente natural.”

Para saber mais sobre Urbanismo e Educação, leia texto de Pedro Lessa em Painel de Argumentos.

Anteriores