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Edição 122      13 de julho de 2006


Olho no Olho

E-books, rumo à democratização da leitura

Aline Durães

imagem olho no olho

Os e-books, nome pelo qual são conhecidos os livros eletrônicos, estão tomando conta da Internet. São cada vez mais comuns – e acessados – os sites que disponibilizam obras literárias para consulta e para download. O Ministério da Educação, por exemplo, montou, no endereço www.dominiopublico.gov.br, uma biblioteca virtual com 732 títulos de Literatura em língua portuguesa. Com alguns cliques, o usuário pode ter, na tela do computador, exemplares digitalizados das mais importantes obras nacionais.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Câmara Brasileira do Livro, em 2002, 61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm pouco ou nenhum contato com livros. A mesma análise constatou que 16% da população concentra 73% dos livros impressos. Os e-books surgem então como um projeto de democratização da leitura, que tem por objetivo modificar essas estatísticas. Os acervos virtuais pretendem tornar mais fácil o acesso aos livros, disseminando conhecimento e suscitando o hábito de ler no brasileiro.

Apesar do sucesso da iniciativa, ainda não é possível precisar os impactos dos e-books no mercado editorial impresso. Até porque as bibliotecas virtuais e a intangibilidade do suporte eletrônico esbarram em questões legais. A legislação do Direito Autoral (Lei 9610/98) diz que a obra artística cai em domínio público depois de 70 anos da morte do autor. Antes disso, ela pertence ao criador e só pode ser reproduzida, distribuída, editada, adaptada ou traduzida com a sua expressa autorização. O respeito aos direitos autorais ainda é um desafio para a maior parte dos livros digitalizados.

Para enriquecer a discussão em torno dos e-books, o Olhar Virtual entrevistou a professora Mariza Russo, coordenadora da equipe de implantação do curso de Biblioteconomia e Gestão da Informação na UFRJ, e Paulo César Castro, professor do curso de Produção Editorial, da Escola de Comunicação. Confira as opiniões dos dois pesquisadores.

Mariza Russo
professora de Biblioteconomia

“A idéia de que o livro eletrônico veio para derrubar o livro impresso não tem grandes fundamentos. O livro impresso é muito forte. É difícil imaginar que ele vai acabar. O leitor valoriza o livro impresso, o que não impede que ele valorize também as novas tecnologias que surgem como suporte alternativo para os livros.

Os e-books apresentam grandes vantagens. Eles realmente democratizam o conhecimento. O livro que está disponibilizado em um site permite que várias pessoas tenham, ao mesmo tempo, acesso a ele. Já em uma biblioteca convencional, o livro só pode ser consultado por uma pessoa de cada vez.

Além disso, normalmente, o livro eletrônico traz consigo um eficiente mecanismo de busca. O leitor pode encontrar em segundos em um e-book, o que levaria horas para fazê-lo no livro impresso. Essa vantagem não pode ser superada pelo suporte físico.

A pirataria é um ponto de polêmica, mas ela sempre existiu com os livros impressos, só que era mais camuflada e mais difícil de ser controlada. Hoje, ao acessar um livro eletrônico, o usuário sabe que está acessando um material que é fonte de direitos autorais. A forma como alguns livros são disponibilizados na Internet pode suscitar muito mais a compra do livro impresso do que a pirataria em si. A Internet, nesse sentido, funciona como um meio de marketing para os livros”.

Paulo César Castro
professor de Produção Editorial

“Acho muito difícil que os e-books causem a total inexistência dos livros impressos. Ainda não há, no Brasil, uma cultura de leitura no suporte eletrônico, que é, por si só, uma leitura difícil e cansativa. Além disso, falta base tecnológica para que esse tipo de leitura se dissemine. O e-book depende de uma estrutura, de equipamentos. Ainda temos uma grande deficiência no número de computadores no Brasil. Esses são empecilhos fundamentais à propagação dos acervos virtuais.

A Internet é um mundo vasto e, muito dificilmente, as pessoas vão procurar os livros virtuais se não souberem previamente da existência das bibliotecas. É fundamental que sejam realizadas estratégias que estimulem o e-book como reforço da leitura. Para aumentar o número de leitores no Brasil, deve-se ter estratégias de divulgação desses livros e também devem ser dadas as condições tecnológicas para que o acesso aconteça.

Guardadas as devidas proporções, o problema do controle das cópias do livro eletrônico parece com a questão da música digital. Quando o livro é digitalizado, assim como a música, a facilidade de ele ser copiado ilegalmente aumenta. Talvez, a pirataria do livro não tenha a mesma dimensão da música, pois esta é muito mais consumível do que o livro. Mas as cópias clandestinas vão ser uma realidade. O mercado vai precisar conjugar a preocupação com os direitos autorais e a acessibilidade dos arquivos, mas isso ainda demandará um certo tempo.

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