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Edição 110      20 de abril de 2006


Ponto de Vista

Sem preconceitos para lidar com diversidade sexual na escola

 

Vanessa Sol

imagem ponto de vista

Apesar das visíveis mudanças no comportamento social, a escola ainda hoje é um ambiente tradicional e conservador, que, em certos casos, reproduz práticas preconceituosas e discriminatórias contra alunos homossexuais.

Para tentar sensibilizar educadores sobre a questão da orientação e da diversidade sexual, a Coordenação de Extensão do Centro de Ciências da Saúde (CCS), desenvolveu o projeto de oficina sobre Diversidade sexual na Escola para tentar minimizar o ambiente de hostilidade e, muitas vezes de violência, existente nestes locais.

O objetivo das oficinas é fazer com que diretores, professores, coordenadores pedagógicos e outros funcionários da instituição reflitam sobre seus atos em casos de homossexualismo e transexualismo dentro do ambiente escolar.

A oficina faz parte do projeto URFJ nas Escolas, que engloba a produção da Revista Saúde e Educação para Cidadania, o Conhecendo a UFRJ, que é realizado em parceria com a Pró-reitoria de Extensão. Todas essas ações estão ligadas à idéia de integração da Universidade com as escolas através de programas de extensão.

A oficina de Diversidade Sexual na Escola foi lançada durante o Fórum Mundial de Educação, em Nova Iguaçu. Ela é gratuita e tem duração de quatro horas e a escola tem que viabilizar o espaço físico para o encontro.

As escolas interessadas em participar do projeto devem agendar a visita com a Coordenação de Extensão do CCS pelo telefone 2562-6704 ou pelo e-mail: extensão@ccsdecania.ufrj.br

Para falar sobre importância deste tipo de trabalho, o Olhar Virtual ouviu a opinião do coordenador do projeto, Alexandre Bortolini.

“Nas escolas, hoje, há a idéia de um ambiente pretensamente pacífico, onde não existe preconceito nem discriminação por parte dos diretores, professores, e funcionários. Os educadores diminuem a importância da discriminação, principalmente, àquela ligada a orientação sexual.

A formação dos educadores ainda hoje não dá conta desta questão. Eles não debatem este tema, têm muito pouca intimidade com a questão da diversidade sexual, além disso, carregam seus preconceitos próprios, por isso a escola não está preparada para encarar a diversidade sexual. Não existe uma posição institucional para tratar do assunto.

Então, essas questões ficam a mercê do pensamento, dos contextos, dos preconceitos próprios de diretores, educadores, funcionários e dos alunos.

O objetivo do projeto é levar essa discussão para dentro da escola e desmascarar essa visão de um ambiente pacífico, pois ele não é. Existem diversas situações de discriminação e violência, inclusive física, contra estudantes homossexuais e transexuais.

Segundo a pesquisa realizada na última parada GLBT do Rio, a escola apareceu como terceiro contexto de maior violência. Ela só perde para a família e para os amigos.

Na pesquisa da Unesco, 25% dos meninos disseram que não gostariam de ter um colega homossexual, 40% dos pais e responsáveis disseram que não gostariam que seus filhos estudassem com colegas homossexuais, 16% dos professores ainda acham que homossexualismo é doença. E esse índice aumenta quando se trata de pais e amigos.

Em relação ao preconceito e à discriminação, há diferenças regionais e entre sexo. Os homens ainda são os mais conservadores e preconceituosos.

Um grande problema a ser enfrentado nas escolas é que os professores enxergam grande parte dos atos preconceituosos e discriminatórios, que vão desde ofensas e xingamentos até violência física, como brincadeiras.

Nas oficinas que o projeto realiza nos ouvimos vários relatos em relação a isso. A escola está despreparada para encarar essas questões.

A oficina não vai levar nenhuma receita pronta, mas propor um debate acerca do tema para reflexão dos educadores e funcionários.

A idéia é sensibilizá-los em relação à questão da diversidade sexual a fim de que a instituição, a escola como um todo, comece a perceber que o preconceito existe, que discriminação velada ou escancarada, e que fingimos não ver, é real e está presente no universo escolar, afetando a auto-estima e o desempenho escolar dos sofrem este tipo de preconceito. A escola precisa tomar uma postura de enfrentamento em relação a esses atos de discriminação e violência.

Mas isso exige em primeiro lugar uma auto-reflexão. A escola precisa se perceber como agente de discriminação também. Em vez de encarar o preconceito como uma prática dos alunos e da família, ela tem ver o quanto ela reproduz uma estrutura preconceituosa. Isso está muito ligado à questão do gênero, a separação dos papéis do homem e da mulher, estabelecendo o que homem pode ou não pode fazer e a mulher também. Essa é a reprodução de um modelo limitado com relação à sexualidade e com relação a gênero.

Como o objetivo é sensibilização da instituição, a oficina vai às escolas para que elas reflitam e comecem a pensar em novas formas de agir a respeito do tema. A sexualidade no ambiente escolar está ligada somente a área da biologia e é lecionada sobre a ótica reprodutiva, esquecendo que existe um outro lado da sexualidade que é psicológico, cultural, social, histórico.

A questão da diversidade sexual está crescendo cada vez mais. Há movimentos específicos lutando por essa questão.”

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