• Edição 227
  • 28 de outubro de 2008

No Foco

Para além do futebol

Aline Durães

foto no foco

Duas vezes por semana, Samuel Pereira, 17 anos, sai de sua casa no bairro de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, pega duas conduções e vem à UFRJ para treinar futebol. Samuel, estudante da 8ª série do Ensino Fundamental da Escola Municipal São Vicente, tem um sonho, tornar-se um jogador de futebol profissional e, há cinco meses, integra a equipe juvenil do Projeto Educação Esportiva da UFRJ.

O projeto existe há dois anos mas, em agosto 2008, oficializou-se com o apoio do Pró-reitoria de Pessoal (PR-4). Nele, um grupo de servidores técnicos-administrativos da UFRJ, além de ensinar o esporte mais praticado no país, leva cidadania e perspectivas melhores de vida para jovens de várias partes do estado.

Durante todo o ano, estão abertas as inscrições para o Projeto, que atende também aos filhos e dependentes dos funcionários da universidade e aos moradores da Vila Residencial. A iniciativa trabalha com quatro categorias distintas — mirim, infantil, juvenil e feminino — que englobam crianças e adolescentes com idade entre 11 e 17 anos. Ao se inscrever, o jovem será encaminhado ao time correspondente à sua faixa etária.

A triagem dos inscritos é realizada por três bolsistas da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, que funcionam como assistentes técnicos e preparadores físicos. Os jogadores entram em campo, e os destaques são, então, selecionados para compor os times que disputam a Copa Light — competição organizada pela Light S.A., composta de 20 equipes — e o Campeonato da Federação do Estado do Rio de Janeiro. Aqueles que precisam aprimorar seu potencial esportivo permanecem na equipe e trabalham com os demais durante os treinamentos, que acontecem de segunda a sexta-feira, das 14h às 16h, no campo da Prefeitura Universitária.

— Sempre fizemos questão de não dispensar crianças que, por ventura, não integrassem as equipes principais. Por isso, elas continuam nos treinos, até porque esse projeto tem cunho educacional e de inserção social — explica Humberto Rêdes, professor da EEFD envolvido na iniciativa.

Hoje, cerca de 100 alunos participam do Projeto Educação Esportiva da UFRJ. Engana-se quem pensa, entretanto, que o projeto visa apenas ensinar futebol às equipes. O esporte é, segundo os coordenadores, apenas uma porta de entrada para esses jovens. Atividades paralelas são desenvolvidas com eles. Na última semana, por exemplo, os meninos e meninas foram visitar a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, organizada de 23 a 25 de outubro, pela Pró-reitoria de Extensão (PR-5). Além disso, uma parceria do Projeto com o Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) vai conceder, a partir de 29 de outubro, um curso de Informática a esses adolescentes.

Os alunos recebem uniformes para dias de treino e de jogos. Há, também, um esforço dos coordenadores em conseguirem apoio para amparar aqueles sem condições de arcar com despesas relacionadas às competições: a Caixa Assistencial Universitária do Rio de Janeiro (Caurj), por exemplo, financiou os exames médicos necessários aos jogadores inscritos pela UFRJ na Copa Light.

— Procuramos oferecer sempre o melhor para eles, no sentido de valorizá-los e aumentar a auto-estima desses meninos. Buscamos trabalhar outros aspectos além do futebol, como a importância da escola e da amizade. Insistimos muito na necessidade de espírito de equipe. E verificar as mudanças no comportamento deles é algo gratificante para nós — destaca Nelson Fontes Vial, um dos coordenadores do projeto.

Melhorias

Jorge Luiz do Carmo membro da coordenação do Projeto de Educação Esportiva da UFRJ, salienta a necessidade de uma melhor infraestrutura para os jogadores. De acordo com ele, seria necessária uma sede que dispusesse de vestiários maiores e de espaços para abrigar os jovens em dias de chuva. Jorge acredita que o ambiente ideal para isso será um dos Centros de Convivência contemplados nas diretrizes do Plano Diretor UFRJ 2020. Neles, estão previstos, entre outras coisas, ginásios poliesportivos.

A coordenação da iniciativa destaca também a importância de outras unidades acadêmicas da UFRJ, como Psicologia, Serviço Social e Odontologia, por exemplo, se unirem à EEFD e participarem do evento: “já temos importantes parceiros. Além da Escola de Educação Física, o Gabinete do Reitor, o Banco do Brasil, a Caurj, a PR-5, a PR-3, a Prefeitura e o Sintufrj nos dão apoio. Mas precisamos estender nossas parcerias com novas unidades da UFRJ”, enfatiza Vílton Cardoso, criador do Projeto.

Para o superintendente da PR-4, Roberto Gambini, a política de Pessoal da universidade deve ir além da confecção de folha de pagamento e do controle da folha de ponto. Isso explica o porquê de a Pró-reitoria ter investido no Projeto de Educação Esportiva: “a política de Pessoal deve permitir o amplo desenvolvimento de seus servidores. E isso se dá, também, através da integração social, da descoberta de talentos e de capacidades que não aparecem exclusivamente no dia a dia do trabalho. Felizmente, a resposta desse Projeto foi mais do que satisfatória. Um sonho que começou com uma brincadeira, afinal o futebol tem seu aspecto lúdico, está se transformando em coisa séria. Acredito que estamos carregando e transferindo esperança para essas crianças, pois ali o futebol se configura em perspectivas de alcançar um futuro melhor”, finaliza Gambini.