• Edição 222
  • 23 de setembro de 2008

No Foco

Pela valorização do professor

Aline Durães

foto no foco

A importância de capacitar professores não é uma idéia recente. Já em 1983, pesquisadores da UFRJ entendiam como dever da universidade contribuir para a atualização dos conhecimentos dos profissionais de ensino da Educação Básica. O Projeto Fundão, a mais antiga iniciativa de Extensão da instituição, vem, há 25 anos, dialogando com todas as esferas do ensino, a fim de melhorar a educação brasileira.

Maria Laura Leite Lopes, docente do Instituto de Matemática (IM/UFRJ) à época e atual professora emérita da UFRJ, foi uma das primeiras entusiastas da criação de um projeto que aproximasse a universidade dos níveis Fundamental e Médio. Maria Laura se articulou para estruturar e ampliar o projeto para outras áreas do conhecimento, além da Matemática. Assim, passaram a fazer parte as áreas de Física, Geografia, Biologia e Química.

— Mais do que a preparação profissional, o Projeto vem proporcionando, há 25 anos, uma formação mais humanística, transformando esses professores pela ação educativa — observa Maria Laura.

Por falta de recursos, no entanto, nem todas as iniciativas puderam ter continuidade. Sobreviveram ao tempo apenas os projetos relacionados à Matemática e à Biologia, cada um com metodologia de trabalho própria e diferenciada. Até hoje, as duas unidades acadêmicas responsáveis por esses cursos recebem, semanalmente, professores de diversas regiões do estado. Na universidade, os educadores, oriundos, majoritariamente, de escolas públicas, recebem orientações de como transmitir a seus alunos em sala de aula os conhecimentos elementares de Matemática e Biologia.

— Primamos por trabalhar aquilo que, na minha opinião, é o ponto forte do Projeto Fundão: as relações. Trabalhar com os professores as relações, sejam elas entre os conteúdos, entre áreas de estudos ou pessoais, tentando dar a eles um olhar macro — explica Maria Lúcia Vasconcellos, do Projeto Fundão Biologia.

Ao longo de duas décadas e meia, cerca de 130 professores multiplicadores, como são chamados os educadores participantes do projeto, passaram pelo curso de Biologia. Na Matemática, foram 107. Há, inclusive, profissionais de ensino que acompanham as aulas há mais de 20 anos. Além disso, a idéia transpassou os limites da UFRJ: através de oficinas, palestras e da cessão de material didático, o Projeto Fundão já conquistou a adesão de professores de estados de todas as regiões do Brasil.

A iniciativa conta também com a participação de bolsistas da Graduação. Cláudia Vianna, hoje professora do Programa de Pós-graduação em Ensino de Matemática da UFRJ e uma das coordenadoras do Projeto Fundão Matemática, ingressou no projeto como aluna. “O Projeto Fundão elevava, já naquela época, a posição do estagiário. Íamos junto com os professores em sala para passar as suas propostas”, lembra Cláudia.

Outros aspectos importantes do projeto são as publicações que ele origina. Os livros são frutos das reuniões de equipe realizadas com os professores multiplicadores. Cada grupo, ao fim de um módulo, produz uma publicação voltada para a área temática estudada na etapa. “A idéia dessas publicações é modificar a prática de ensino e fazer com que o educador dedique maior interesse ao tema abordado por elas”, pontua Cláudia Vianna.

Futuro

O Projeto Fundão não possui qualquer fonte de recursos. O principal fomentador dessa iniciativa é a vontade dos pesquisadores, alunos e professores multiplicadores que dela participam. Na opinião de Maria Laura, formar “continuadores” da idéia é crucial para a continuidade do projeto de valorização do profissional de ensino: “eu espero que o nosso trabalho seja ampliado e seja, cada vez mais, reconhecido pelas autoridades. Fala-se muito que o futuro do Brasil está na educação. Para se ter uma boa educação, é fundamental formar bem os professores”, conclui.