• Edição 214
  • 29 de julho de 2008

Entrelinhas

História e memória de Vigário Geral

Julia Vieira

capa do livro

O Rio de Janeiro tem cerca de 800 favelas e todas elas são, atualmente, dura e diretamente, ligadas à violência, à insegurança, ao medo e às drogas. Mas nem sempre foi assim.

Para mostrar à sociedade a história da comunidade de Vigário Geral, a Professora do Departamento de História (IFCS/UFRJ), Maria Paula Araújo, dedicou-se ao livro História e memória de Vigário Geral, sétimo livro da coleção Tramas Urbanas, lançada pela Aeroplano Editora, com curadoria de Heloísa Buarque de Hollanda, para dar voz às diversas manifestações artísticas e intelectuais das periferias brasileiras.

Para conhecer melhor essas histórias, o Olhar Virtual conversou com Maria Paula Araújo.

Olhar Virtual: Como surgiu a idéia de escrever sobre este tema?

O desejo de escrever o livro surgiu a partir de uma pesquisa que passei a desenvolver com a professora Ilana Strozemberg, da Escola de Comunicação, envolvendo grupos de trabalho e ações culturais nas favelas do Rio de Janeiro. Fiquei encantada com o funcionamento desses empreendimentos nas comunidades e passei a estudar mais a fundo o assunto. A concretização da idéia surgiu a partir de uma entrevista com José Júnior, coordenador executivo do Grupo Cultural AfroReggae.

Olhar Virtual:Como aconteceu a parceria com o AfroReggae?

Depois desta entrevista com o Júnior, passamos a conversar muito sobre a importância de mostrar a história da comunidade de Vigário Geral. Como ela tinha surgido, os acontecimentos mais importantes e como tinha chegado ao que é hoje. Após o amadurecimento desta idéia, fizemos um contrato formal de convênio entre a UFRJ e o AfroReggae.

Olhar Virtual: Durante sua pesquisa, você trabalhou sozinha?

Não. Depois de firmado o convênio da universidade com o AfroReggae eu escolhi dois alunos para serem bolsistas e me dar apoio nas pesquisas para o livro.

Olhar Virtual: Você encontrou alguma dificuldade ou problema nas vezes que precisou subir o morro?

Nunca encontrei problemas porque sempre subi acompanhada de jovens da comunidade que participavam de projetos culturais nas favelas que freqüentei.

Olhar Virtual: Esta foi a primeira vez que você trabalhou em comunidades?

Não. Já fazia algum tempo que não trabalhava em comunidades carentes. Quando ingressei na profissão comecei a dar aulas de alfabetização na Rocinha e no Borel. Passei um tempo afastada e agora retomei meus estudos nestes lugares por conta deste livro e deste projeto de pesquisa.

Olhar Virtual: Existem outros livros que têm como tema central as favelas. Como você diferencia o seu livro dos demais?

Acho esse livro importante porque passa pelos mais diversos eventos históricos – das reformas urbanas do prefeito Pereira Passos ao triste episódio da chacina de Vigário Geral. O livro esmiúça não apenas a história de Vigário, mas, também, a formação urbana e espacial do Rio de Janeiro e suas repercussões numa estrutura sócio-econômica em que exclusão social e concentração de renda se mesclam. Assim, ele contribui para a eliminação da dicotomia favela x cidade formal e para a constituição de uma cidadania mais inclusiva e menos violenta em nosso país.

Olhar Virtual: Durante o período de pesquisa você acumulou muitos relatos e histórias interessantes. O que você gostaria de relatar aos leitores do Olhar Virtual?

O que achei mais interessante foi poder estimular a relação dos jovens da UFRJ com os jovens dessas comunidades e conseguir mostrar que apesar de viverem em realidades diferentes eles têm muita coisa em comum. Assim como os alunos da UFRJ, os jovens que atuam nestes projetos também acreditam no papel transformador da arte, da ciência e do conhecimento na vida das pessoas.