• Edição 175
  • 11 de setempro de 2007

De Olho na Mídia

No foco da dengue

Camila

imagem ponto de vista

O aumento do número de vítimas da dengue é, infelizmente, um assunto recorrente na mídia. A cada ano, as estatísticas são mais preocupantes. No município do Rio de Janeiro, somente nos primeiros seis meses deste ano houve 17.070 ocorrências da doença, superando o total de 14.072 casos registrados em 2006.

Os surtos de dengue, doença infecciosa virótica transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, ocorrem geralmente no verão, quando as chuvas freqüentes favorecem o acúmulo de água limpa e parada formam criadouros das larvas do mosquito vetor.

Para Edimilson Migowski, professor de Infectologia Pediátrica da UFRJ e vice-presidente da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro, a dengue é uma questão pública, de saneamento básico. “É, sobretudo, resultado do desleixo da população e do descaso do governo. A dengue é uma doença de fácil controle, as pessoas sabem como agir, mas falta a atitude condizente com o conhecimento sobre o problema. Talvez a desatenção aconteça porque não há uma punição para quem não cuida dos focos do mosquito na própria casa, ou porque quem já teve dengue pensa que não vai adoecer novamente”, destaca o professor.

Em relação à falta de espaço na mídia para um problema tão grave como a dengue Migowski é crítico. “Não vejo início, meio e fim nas reportagens sobre a dengue. A mídia se preocupa com as manchetes e só noticia quando a doença é de grande impacto de saúde pública ou quando alguém famoso fica doente. Os meios de comunicação podiam exercer mais o seu papel influenciador para educar a população e divulgar, com seriedade, esse tipo de enfemidade.”

Quanto à diferença entre o tratamento dado pelos veículos de comunicação, o professor emendou: “A educação se faz pela associação de seqüência e freqüência. Muitas vezes, a mídia precisa reduzir as reportagens por uma questão de espaço e de tempo, mas é fundamental que a informação seja transmitida, só assim haverá uma organização para o combate do mosquito transmissor. Geralmente, a televisão e a mídia impressa são mais restritas. O rádio, apesar de não ter imagens, oferece mais tempo e é mais democrático. Uma boa panfletagem vinculada a campanhas no rádio é a melhor maneira de persuadir a população em relação à dengue.”

O infectologista também criticou a postura do Ministério da Saúde (MS). “O Ministério tem um comportamento parecido com o da imprensa. Um dos principais erros cometidos é mascarar a real situação do problema, se valendo de um linguajar técnico para dizer que não estamos vivendo uma epidemia de dengue. E não estamos mesmo, porque uma epidemia se caracteriza pelo aumento do número de casos de uma doença em relação a uma série histórica. Os índices de ocorrência estão sempre elevados, ter dengue já é normal para o carioca. Precisamos, sim, preocupar as pessoas, até porque elas podem mudar o próprio destino, evitando mortes, apenas pela mobilização”, salientou.

Segundo Migowski, “o Ministério da Saúde quer se vangloriar pela redução do número de casos, mas apenas poderá se orgulhar de fato quando essa redução estiver associada à diminuição do vetor transmissor. A situação não está pior por uma questão de sorte, não de competência”.

Tentando combater a falta de informação, Migowski está escrevendo um livro, ainda sem título, a fim de esclarecer dúvidas e desmitificar algumas “verdades” divulgadas pela mídia sobre a dengue. Bastante engajado, o professor possui dois projetos: o primeiro pretende levar estudantes da universidade até a estação das Barcas para orientar pessoalmente a população; o segundo, chamado “Doenças de grande impacto de saúde pública”, realizará uma campanha junto aos meios de comunicação e, quando uma doença ganhar destaque na mídia, dois documentos serão produzidos sobre ela, um para a comunidade médica e outro para leigos. Além disso, Migowski é diretor-presidente do Instituto Prevenir é Saúde, outra importante fonte de informação que busca impedir uma possível calamidade provocada pela cultura de “remediar” do brasileiro.