• Edição 157
  • 08 de maio de 2007

Ponto de Vista

Lição de cidadania dentro da UFRJ

Priscilla Bastos

imagem ponto de vista

Em 2004, a Divisão de Integração Universidade Comunidade vinculou-se à Pró-reitoria de Extensão (PR-5) da Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ), para a criação do Programa de Alfabetização da UFRJ para Jovens e Adultos para Espaços Populares, em associação com a Faculdade de Educação, Faculdade de Letras, Instituto de Matemática e Escola de Serviço Social. Atualmente, o quadro de pessoal do programa conta com uma equipe acadêmica formada por docentes das unidades envolvidas, um recém-doutor da UFRJ, uma recém-mestre da UNIRIO, alunos de pós-graduação da UFRJ, uma administradora e uma técnica-administrativa da PR-5.

O programa conta com o apoio dos parceiros locais, que são responsáveis pela estrutura física e pelo suporte local dado aos alfabetizadores, e está vinculado ao Programa Brasil Alfabetizado. Em 2006, o CENPES / Petrobras passou a financiar o projeto. Além disso, um ponto específico chama a atenção. O fato de os alfabetizadores serem alunos dos cursos de graduação da UFRJ. Quatro cursos de Formação de Alfabetizadores de Jovens e Adultos já foram promovidos, formando cerca de 200 alfabetizadores.

Para conhecer um pouco mais sobre o Programa de Alfabetização da UFRJ, o Olhar Virtual conversou com a coordenadora do programa, professora Marisa Leal, do Instituto de Matemática.

Onde são desenvolvidas as atividades do Programa de Alfabetização da UFRJ?

As atividades educacionais são realizadas, em sua maioria, nos espaços populares próximos ao campus do Fundão. As ações se iniciaram no bairro Maré e, posteriormente, a partir dos resultados obtidos nas primeiras experiências, a universidade foi convidada a instalar salas de alfabetização em outras comunidades: Parada de Lucas, Colégio e Manguinhos. Em 2007, após avaliação das necessidades e condições locais, o Programa trabalhará em 24 localidades, dando continuidade a ações educativas nos bairros Maré, Parada de Lucas e Rio Comprido e no campus do Fundão, atendendo aos funcionários efetivos ou terceirizados desta instituição, e abrirá novas classes de alfabetização no bairro Caju e no campus da Praia Vermelha.

Atualmente quantas pessoas o programa assiste?

Nosso compromisso com o Brasil Alfabetizado é atender 600 alunos em 2007. Hoje, temos cadastrados 610 e demanda para abrir, pelo menos, três novas turmas. Acredito que, este ano, devemos trabalhar com cerca de 700 alunos.

Qual o perfil dos alunos atendidos?

Com base no levantamento feito em 2006, 64% dos nossos alunos eram mulheres, 56% tinham mais de 35 anos, 72% possuíam filhos, 46% declararam menos de 4 anos de estudos, 50% eram oriundos das regiões Norte e Nordeste, 77% declaram não receber nenhum benefício de programas governamentais, 58% declaram necessitar da leitura, escrita e matemática apenas em situações cotidianas, contra 16% que declaram necessitar em situações cotidianas e de trabalho.

Os alfabetizandos recebem algum tipo de material didático?

Eles recebem material didático produzido pelo projeto, assim como todo o material utilizado em sala de aula (caderno, lápis, borracha, régua etc.), além de camisetas do programa. Também somos responsáveis pelo translado dos alfabetizadores e dos alunos para a realização das atividades culturais, que buscam valorizar as atividades locais e ampliar o universo cultural dos alfabetizandos.

De que forma são selecionados e formados os alunos dos cursos de Graduação da UFRJ, futuros alfabetizadores?

Os alfabetizadores, antes de assumir uma classe de alfabetização, participam do processo de formação, realizado por docentes da UFRJ e professores convidados, na forma de Curso de Extensão. O curso aborda aspectos teóricos e metodológicos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), tais como: Histórico da EJA, Cultura e Classes Populares, Subsídios lingüísticos para a alfabetização, Alfabetização matemática, Didática da EJA, Conceito de alfabetização e letramento, Elaboração de material didático — totalizando 60 horas. Após o curso de formação inicial, os graduandos que foram aprovados no processo de seleção e passaram a atuar como alfabetizadores são inseridos no processo de formação continuada. Esse duplo movimento de formação é realizado por uma equipe interdisciplinar composta por docentes das quatro unidades envolvidas no programa e alunos de Pós-graduação e recém-doutores da UFRJ, que promovem um rico diálogo sobre os aspectos das diferentes áreas de conhecimento ligadas ao projeto, buscando mostrar toda a dimensão do processo de alfabetização.

Qual o percentual de pessoas realmente alfabetizadas pelo programa?

De acordo com parâmetros do MEC, quem tem domínio básico do idioma e das quatro operações básicas da matemática, mas não aplica esse conhecimento no seu cotidiano, é considerado analfabeto funcional. Para efeito da avaliação das taxas de analfabetismo, o IBGE (PNAD 2005) considerou como alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma. Sendo uma das metas principais do programa, após este primeiro momento da sua escolaridade, encaminhar os alfabetizandos no sistema regular do ensino, trabalhamos na linha dos parâmetros curriculares propostos pelo MEC. Num processo maior do que o de simplesmente ensinar a “decifrar” um código a partir da conversão mecânica de letras, números e sons, trabalhamos a apropriação de linguagens em situação de uso. Desta forma, para nós, os alunos estarão considerados alfabetizados quando forem capazes de utilizar minimamente os conhecimentos adquiridos nas salas de alfabetização nas suas práticas sociais.

Se avaliarmos o nosso trabalho de acordo com os parâmetros do MEC, podemos afirmar que em torno de 70% dos alfabetizandos do programa que freqüentaram as classes de alfabetização pelos 8 meses, tempo de duração do curso, deixaram de fazer parte da triste estatística do analfabetismo funcional. Por outro lado, se desprezarmos as competências de matemática exigidas pelo MEC e nos atermos somente à definição de “pessoa alfabetizada” dada pelo IBGE, a taxa de sucesso do programa fica próxima a 100%.

Neste momento, qual a expectativa do Programa em relação ao redesenho anunciado pelo MEC para o Programa Brasil Alfabetizado?

Uma das metas do nosso programa é o de justamente formar parcerias com as Secretarias Municipais e Estaduais de Educação, com o objetivo de oferecer cursos de Extensão aos professores que atuam com Educação Básica. Dessa forma, estamos no aguardo do edital do MEC (Redesenho do Brasil Alfabetizado) para tentarmos que a UFRJ, através do programa, seja uma das universidades federais responsáveis pela Formação Inicial e Continuada dos professores que irão atuar como alfabetizadores de jovens e adultos.

Como deve proceder quem estiver interessado em conhecer e/ou participar do programa?

As pessoas interessadas podem nos visitar em nossa sede, localizada no Anexo da PR-5 (próximo à Prefeitura Universitária), nos telefonar (2598-9263), fazer contato pelo e-mail alfabetizacao2007@yahoo.com.br e visitar nosso blog (www.alfa.ufrj.zip.net).