• Edição 151
  • 22 de março de 2007

Resenha

Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile

capa do livro

Por: Francisco Conte

Mal termina a exibição na passarela da Marquês de Sapucaí, cariocamente apelidada de “Sambódromo” pela população da cidade, apurados os votos dos jurados e proclamada a campeã, começam os preparativos para o desfile do ano seguinte, com a escolha de novos enredos a serem levados à avenida. O carnaval, esse rito que (re)constrói parte importante da nossa identidade, não se circunscreve, assim, ao episódio da festa momesca, mas instaura empreendimentos complexos, a partir dos quais idéias alinhavadas no enredo vão sendo, gradualmente, transfiguradas em samba-enredo, alegorias e fantasias das escolas de samba. É desse ciclo carnavalesco anual que Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, do Programa se Pós-graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, nos oferece uma análise ao mesmo tempo rigorosa e amorosa.

O livro, cuja origem é a tese de doutoramento defendida pela autora, junto ao Programa de Pós-graduação em Antropologia do Museu Nacional (MN/UFRJ), discute esse amplo processo cultural que mobiliza a cidade do Rio de Janeiro e que tece redes de relações, ora cooperativas, ora conflituosas, entre atores sociais diversos. O carnavalesco, os compositores, os chefes de ala, os inúmeros artistas incorporados ou produzidos pelo processo carnavalesco transitam entre diferentes domínios culturais, e assumem o papel de mediadores sociais.

A análise, que tomou por base O G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel, no ano de 1992, revela ainda as dimensões estéticas e expressivas que informam a linguagem plástica e visual das fantasias e das alegorias e a linguagem rítmica e musical do samba-enredo. O “visual” e o “samba no pé” são compreendidos como pólos complementares do processo ritual festivo e da própria história dos desfiles na vida da cidade. Entre a festa e o espetáculo, e agregando aspectos mercadológicos a dimensões fortemente comunitárias, o desfile das escolas de samba delineia um significativo ritual urbano contemporâneo, revelador das tensões, interações e conflitos.

A obra, que, ganha agora uma terceira edição, ampliada e revista, se tornou uma das principais referências para os estudos do tema. Uma relevante contribuição à Antropologia da nossa contemporaneidade.

Gilberto Velho, do Museu Nacional, escreve a orelha, e a quarta-capa é de Roberto DaMatta, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ).

Autor: Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti

Editora UFRJ 2006