• Edição 138
  • 01 de novembro de 2006

Ponto de Vista

Conexões de Saberes: do local ao nacional

Priscilla Bastos

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Entre os dias 2 e 4 de novembro, acontecerá o II Seminário Nacional do Programa Conexões de Saberes, realizado pelo Ministério da Educação, pelo Observatório de Favelas e trinta e duas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). O evento será sediado na Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEFD) e se prepara para receber cerca de 1500 pessoas, entre alunos, professores e representantes de instituições de todo o país.

Para falar sobre a importância do Conexões de Saberes, o Olhar Virtual conversou com a assistente social, mestre em Serviço Social pela UFRJ e membro da equipe de coordenação do projeto, Eblin Farage, que fez uma análise geral do crescimento e espectativas do projeto.

“O Conexões de Saberes é fruto de uma experiência que teve início no Complexo de Favelas da Maré através do CEASM (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré) e do Observatório de Favelas, que começaram a propor uma serie de ações e projetos envolvendo estudantes universitários de origem popular, em especial na preparação para pesquisas. A partir de 2005, o Observatório propôs que esse projeto fosse assumido pelo MEC/SECAD (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade), para que se expandisse pelo Brasil através da articulação com as Universidades Federais, transformando a experiência local em nacional. Teve início com cinco universidades, depois passou para quatorze e hoje são trinta e duas universidades de todas as regiões do Brasil.

No primeiro seminário nacional do programa Conexões de Saberes - diálogo entre a Universidade e os espaços populares -, que aconteceu em Recife, em novembro de 2005, eram cerca de 500 participantes de quatorze universidades públicas federais; hoje, para o segundo seminário nacional, a expectativa é de compareçam aproximadamente 1600 integrantes do Conexões de Saberes e do Escola Aberta de todo o Brasil.

Os números mostram a importância que o projeto tomou nesse ano e a dimensão que vem assumindo junto às universidades e ao MEC/SECAD.

Estamos apostando que esse projeto pode de fato contribuir para reflexões e ações que se referem ao acesso e permanência de estudantes de origem popular na universidade pública, gratuita e de qualidade.

Hoje, nacionalmente, o programa Conexões de Saberes atende aproximadamente 1440 bolsistas. Na UFRJ, temos 60 bolsistas e uma coordenação composta por oito pessoas e uma articuladora de campo.

Na UFRJ, o projeto se organiza em oito diferentes frentes de trabalho, que são: secretariado, formação, pesquisa, escola aberta, divulgação, eventos, institucionalidade e memória, monitoramento e avaliação.

Desenvolvemos pesquisas internas à UFRJ para levantamento do perfil dos alunos de origem popular; desenvolvemos trabalho junto a pré-vestibulares comunitários; investimos de forma prioritária na formação de nossos bolsistas e realizamos oficinas em escolas públicas nos fins de semana de leituração e Direitos Humanos.

Já foi lançado um livro chamado "Caminhadas", que trata das caminhados de estudantes de sete universidades até chagarem à elas.No II Seminário, será lançado o “Caminhadas” de mais sete universidades, além de uma nova coleção de livros com textos acadêmicos dos alunos/bolsistas de quatorze universidades.

Acreditamos que a principal função do Projeto é contribuir para reflexões e a proposição de ações que possibilitem o acesso e a permanência dos estudantes de origem popular na universidade. Para que isso aconteça, é necesário criar uma nova cultura universitária que seja menos meritocrática e mais democrática, e que permita que os jovens trabalhadores também tenham o direito de cursar o ensino superior de qualidade.

Essa reflexão não é fácil de ser feita em uma universidade marcada historicamente pela lógica meritocrática, que acaba por privilegiar o acesso e a permenância de estudantes das classes médias e altas de nossa sociedade. Significa que, para que haja mudanças, é necessário envolver docentes, discentes e técnicos na discussão sobre a democratização do ensino superior, tão necessário nesse país desigual.

Esperamos que o Conexões de Saberes possa envolver todas as regiões do Brasil nessa discussão e que esse segundo seminário produza importantes reflexões para democratizar a universidade pública brasileira.”