• Edição 136
  • 19 de outubro de 2006

Olho no Olho

Hidroelétricas: impactantes, mas ainda a melhor solução

Priscilla Bastos

imagem olho no olho

A geração de energia elétrica é uma questão polêmica por ser extremamente necessária e, ao mesmo tempo, causar impactos ambientais. No Brasil, a matriz energética é baseada nas hidroelétricas, que são impactantes, mas ainda são consideradas como uma das fontes mais limpas de geração de energia. Para debater a questão das hidroelétricas em contraposição ao meio ambiente, o Olhar Virtual conversou com a professora e vice-coordenadora do Programa de Planejamento Energético da COPPE, Alessandra Magrini, e o professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia, Alex Enrich Prast.

 

 

 

 

 

 

 

Alessandra Magrini
Professora e vice-coordenadora do Programa de Planejamento Energético da COPPE

"O país precisa de energia para crescer. Pode-se questionar o modelo de crescimento e desenvolvimento que está-se perseguindo, de empreendimentos energo-intensivos, siderúrgicas, que requerem grande quantidade de enrgia, mas, uma vez que o Brasil está no percurso de país em desenvolvimento, precisa de energia para crescer. Há várias maneiras obter essa energia; tem-se as energias convencional e alternativa. As energias alternativas, como solar, eólica, encontram problemas, e, apesar de já termos muitos avanços – o Brasil entra na questão da Biomassa –, ainda se pensa muito em petróleo, carvão, ou seja, as fontes convencionais.

A energia elétrica pode ser obtida de várias meniras: a partir de uma central nuclear, de uma hidroelétrica e de uma termoelétrica a gás, a carvão ou a óleo. O Brasil optou por uma matriz energética renovável. Tanto a termoelétrica, quando a nuclear requerem combustíveis que não são renováveis. O Brasil tem um potencial hidroelétrico alto em comparação a outros países, e tem aproveitamento também alto.

Hoje, as questões ambientais se exarcebaram por vários motivod, como maior coinscientização da população, entrada do Ministério Público pelo desaparalhamento dos órgãos ambientais etc. O licenciamento se burocratizou muito, e o licenciamento ambiental se tornou um problema poítico-administrativo muito complexo, que está adquiraindo, inclusive, um viés jurídico muito grande. As hidroelétricas, independente dos problemas burocrático-administrativos, estão sendo alvos de contestação por parte de segmentos da sociedade, porque causa impactos, embora seja uma fonte renovável. Porém, causam impacto, também, termoelétricas e nucleares. O Brasil quer expandir seu parque hidroelétrico para seguir a linha da sua matriz energética limpa e renovável, mas há grande resistência da população à hidroelétrica, o que , do ponto de vista técnico é pior, já que ela tem uma menor emissão de gases de efeito estufa. A nuclear não emite gases desse tipo, mas encara o problema, entre outros, do armazenamento dos seus resíduos. A população resiste em relação à hidroelétrica porque ela tem impactos muito visíveis e afeta os que estão no local onde ela vai existir: muda o curso do rio, muitas vezes desaloca a população, alaga áreas, tem impacto sobre flora, fauna, então as pessoas sentem muito isso, embora seja uma energia renovável e que não poluia na nossa concepção.

O dilema que encontramos hoje é “Para onde vamos?”, porque precisamos de energia. As hidroelétricas impactam, mas são fontes renováveis e o Brasill tem a sorte de ter recursos hídricos e potencial hidroelétrico, mas temos essa resistência do ponto de vista ambiental em relação a elas. Isso é complicado , uma vez que, se o Brasil escolheu esse caminho, tem que haver uma forma de ter energia. Acredito que a hidroelétrica impacte, mas todas as fontes de energia impactam, então, seria uma melhor opção fazer um empreendimento mais compactuado com a sociedade; enfim, no fundo é uma fonte renovável, que fará com que o Brasil vai tenha e mantenha uma matriz energeticamente melhor."

Alex Enrich Prast
Professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia

“Primeiramente, sou favorável às hidroelétricas, apesar de ter consciência de que elas, como quelquer forma de geração de energia, causam impacto ao meio ambiente. Fala-se muito de energia solar e eólica como não poluentes, mas também causam impacto, pois, para produzir aquelas placas de captação de energia solar, há uma grande quantidade de resíduos, e, pelos moinhos de vento, várias aves migratórias na Europe têm tido problemas, morrendo ou mudadando suas rotas.

No Brasil, a própria geografia nos levou a uma matriz baseada nas hidroelétricas. Durante muito tempo, acreditou-se que era uma energia limpa, com poucas formas de impacto, mas foram-se descobrindo fatores mais negativos. Mesmo consciente disso, acho que essa ainda é a forma mais viável, mais barata e que causa menos danos ao meio ambiente. Não se deve condenar as hidroelétricas; alguns projetos do passado não devem ser repetidos. Por exemplo, hoje, já se sabe que hidroelétricas pequenas emitem muitos gases que causam o efeito estufa e a relação custo/benefício não vale a pena, porque a geração de energia é muito pequena. Em hidroelétricas maiores, com produção de energia muito grande, essa relação é favorável. Mesmo sanedo-se os impactos que essas hidroelétricas causam – grande área de floresta inundada, famílias retiradas, cidades remanejadas, tem toda essa questão, obviamente, social e ambiental que tem que ser levada em consideração – é necessário pensar a viabilidade das outras formas de energia. Da energia atômica, temos o problema do lixo, que muita gente que ainda joga no mar; das termoelétricas, temos uma quantidade enorme de poluentes e o problema da água aquecida, que volta para os rios; então, todas elas têm prós e contras.

Cada vez mais a questão ambiental ganha importância e cada vez mais vem-se criando essa consciência, então, se tem conhecimento suficiente, alguns tipos de empreendimentos não devem ser realizados. O errado é militar contra as hidroelétricas sem questionar se a população está disposta a usar menos luz ou menos ar condicionado, por exemplo. Existe uma certa hipocrisia na sociedade; ninguém muda seus hábitos. As pessoas usam o argumento de que querem ser contra as hidroelétricas, quando, na verdade, o problema está na sociedade como um todo: a quantidade de lixo que a gente produz, a quantidade de mata desmatada.

Outra questão está focada nas represas. Tem gente que diz que elas causam problemas de plantas aquáticas, emitem muitos gases, mas há como controlar isso. Acho que existem mecanismos que, associados ao conhecimento crescente, nos permitem amenizar esse tipo de impacto. A gente sabe muito pouco sobre isso. O que tem que ter é estudo para saber como é uma represa daqui a 50 anos. Será que ela emite muito gás, muito metano? Não se sabe. Será que uma empresa com 5 anos emite? Emite. Sabemos isso porque os estudos em cima dos impactos são mais recentes, já que antigamente achava-se que não impactva nada. Além disso, os reservatórios, no Brasil, recebem esgotos, causando eutrofização, acúmulo de algas, e aquela água não pode ser utilizada. Mas esses reservatórios, em certos lugares, dão uma garantia de abastecimento de água, pois alguns mantêm cidades nas proximidades, então, o abastecimento de água depende deles.

Então, eu acho que as hidroelétricas devem ser exploradas como fonte de energia, porque é a nossa vocação, o nosso país tem vocação para isso; a nossa geografia nos permite isso. Ainda acho que são a melhor fonte de obter energia, porque queimar petróleo ou gás, para isso, no Brasil, seria um desperdício do nosso potencial hídrico."