• Edição 135
  • 11 de outubro de 2006

Resenha

Marx (sem ismos) capa do livro

Por: Francisco Conte

Há, por certo, algo de temerário no projeto de Francisco Fernández Buez, professor de Filosofia Política da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, Espanha, e um dos mais importantes intelectuais marxistas contemporâneos: resgatar um Marx anterior à proliferação dos marxismos que acabaram produzindo um intrincado palimpsesto que sufoca a voz marxiana numa profusão de interpretações, não raro em aberto confronto entre si. Não se trata, evidentemente, de reinventar um mítico Marx “original” e isento de toda contaminação, como se esse retorno à obra marxiana e ao ambiente intelectual em que ela foi gerada não comportasse uma parcela de construção, mas ao contrário distinguir, com cuidado e meticulosidade, aquilo que disse e escreveu do que escreveram e disseram em seu nome. Tarefa intelectual e politicamente urgente, pois na onda da euforia midiática pela derrocada da URSS ameaça-se elidir a dimensão agudamente crítica do filósofo alemão.

Buez se sai a contento da empreitada a que se propôs. A obra percorre os principais textos de Marx, desde a juventude até as grandes obras da maturidade, com ênfase nas condições políticas e intelectuais em que foram gestadas. Nessa trajetória, diversas discussões importantes para a compreensão da obra marxiana são levantadas. Duas delas: a persistência de traços autoritários na obra e na prática de Marx e a sua relação com o judaísmo.

Esse esforço paciente de contextualização das categorias marxianas, redescobre um Marx empenhado na crítica da totalidade do mundo burguês, e não apenas da sua economia política, ao mesmo tempo em que um pensador atravessado por contradições e tensões nem sempre adequadamente resolvidas. Um Marx, não raro, crítico do próprio marxismo; o que talvez explique a irônica afirmativa de que, ele mesmo, não se considerava marxista.

Autor: Francisco Fernández Buez

Editora UFRJ

Ano: 2004