• Edição 135
  • 11 de outubro de 2006

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Pesquisador da UFRJ coordena livro sobre erosão no litoral brasileiro

 

Cadu Kayres

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O Ministério do Meio Ambiente lança o livro Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro. Elaborado pelos grupos de pesquisa associados ao Programa de Geologia e Geofísica Marinha (PGGM), do qual pesquisadores da UFRJ fazem parte. O livro descreve características geológicas, geomorfológicas e oceanográficas da zona costeira brasileira buscando identificar e classificar a linha de costa por segmentos em função de suas tendências de erosão, estabilidade ou progradação. Trata-se de um diagnóstico detalhado apresentado ao longo de 475 páginas ricamente ilustradas, resultado de anos de pesquisa realizada com recursos fornecidos por diversas instituições de fomento e, não raras vezes, com recursos próprios.

Dieter Muehe, professor da UFRJ e coordenador da publicação, afirma que as pesquisas em geologia marinha começaram, no final da década de 60, com a primeira expedição oceanográfica. Desde então, grupos de pesquisadores se formaram e resolveram inaugurar um estudo que não se preocupava em ser um levantamento sistemático do litoral brasileiro. “Essa visão sistemática da plataforma continental foi conduzida pela Marinha e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que por meio do fornecimento de recursos aos grupos, os fizeram iniciar um estudo sistemático da plataforma, principalmente em termos de recobrimento sedimentar e indicação dos ambientes de reposição e erosão”, explica Dieter. Ele também destacou que graças ao apoio do CNPq, esses grupos, uma vez formados, passaram a se reunir anualmente para discutir metas a serem cumpridas em conjunto. “A visão deles é interessante, pois formam uma rede sólida, que nem a distância consegue ser um empecilho para o projeto”, observa Dieter.

O diagnóstico, que identifica os segmentos de maior vulnerabilidade da linha de costa, servirá de base para a elaboração de um amplo projeto de monitoramento, que terá como objetivo verificar as causas dos desequilíbrios através de estudos geológicos, geomorfológicos e oceanográficos detalhados. O acompanhamento contínuo destes segmentos tem como finalidade determinar a velocidade de retração ou avanço da linha de costa assim como identificar tendências e ciclos de longo e curto prazo. “Tal abordagem permitirá oferecer subsídios fundamentais para o gerenciamento costeiro no sentido de melhor orientar a forma de ocupação da orla costeira”, destaca Muehe.

A pesquisa – que estudou cerca de 8 mil quilômetros da costa, desde a foz do Rio Oiapoque (Amapá) até o Arroio Chuí (Rio Grande do Sul) –, constata que cerca de 40% da linha atlântica brasileira sofre os efeitos negativos da ação humana. Essa porção está em processo de erosão (recuo do solo) ou de progradação (avanço). "A costa brasileira se tornou um ambiente sujeito a mudanças, na medida em que aumenta a ocupação da orla costeira", afirma Dieter Muehe.

No levantamento divulgado no livro, os pontos mais vulneráveis foram localizados, mapeados e estudados em detalhes. Os casos mais graves de erosão encontram-se nos municípios de Atafona, no estado do Rio de Janeiro, e Tubarão, no Rio Grande do Norte, onde existem poços de petróleo.

“Apesar de casos conhecidos em Caraguatatuba, por exemplo, o litoral de São Paulo, com cerca de 400 quilômetros de extensão, não tem grandes extensões de praias que foram submetidas ao processo de erosão” esclarece o professor em relação ao Estado paulista.

Segundo Dieter, o crescimento desordenado das cidades aliado ao desenvolvimento do turismo e da aqüicultura como atividades econômicas relevantes, demandam uma disputa pelo espaço e pela preservação, na qual a natureza também se impõe.

A publicação Erosão e Progradação do litoral Brasileiro contou com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Programa de Geologia e Geofísica Marinha (PGGM), da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm) e do Global Ocean Observing System (GOOS-Brasil).