• Edição 131
  • 14 de setembro de 2006

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Massacre na Praia Vermelha

Bruno Franco

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A invasão do prédio da Faculdade de Medicina, no dia 23 de setembro de 1966, pelas forças da ditadura, resultando na agressão a seiscentos estudantes e na depredação de patrimônio público foi um capítulo exemplar do vigor e da importância do movimento estudantil.

Além das muito conhecidas, e fartamente documentadas, arbitrariedades perpetradas pela ditadura, como censura e tortura, um fator que agitava a academia, em meados dos anos sessenta, era a iminente reforma universitária.

A modernização da universidade brasileira era uma necessidade. “O governo alegava também que o aperfeiçoamento não deveria ser feito num clima de total liberdade de expressão devido à enorme influência marxista no meio universitário, que resultava no engajamento "subversivo" contra qualquer influência americana”, relata Antônio Paes de Carvalho, à época professor de Biofísica.

Havia ainda embates pela ampliação da representação discente nos colegiados, pela autonomia universitária, e pelo fim da cobrança de anuidades (estabelecida pela Lei Suplicy de Lacerda).

Almir Fraga, decano do Centro de Ciências da Saúde - na ocasião, matriculado no sexto período do curso de Medicina – chegou às instalações da Faculdade Nacional de Medicina, no campus da Praia Vermelha, no início da tarde.

“Eu era favorável ao movimento, mas não fazia parte das lideranças. No meio da tarde, começou a haver o cerco da PM, com a orientação de que se esvaziasse o prédio, e de que a ocupação era proibida”, acrescenta.

De madrugada, de 2h para às 3h, os policiais invadiram o prédio. “A maior parte das pessoas foi autorizada a sair e teve de passar por um ‘corredor polonês’. De vez em quando davam uma borrachada em um (os cacetetes eram de borracha). Fui para a casa e somente soube das reais conseqüências da invasão, depois pelo noticiário”, descreve o decano.

O dia ficou marcado como o Massacre da Praia Vermelha e deve ser lembrado como um evento símbolo que evidencia a importância do movimento estudantil na luta pela democracia e pela autonomia universitária, defende Almir Fraga.

Antônio Paes de Carvalho partilha da mesma idéia e ressalta os “atos de bravura (por vezes impensada) de uma juventude acostumada a respirar liberdade e que se via subitamente sufocada”.

Rebelde da Praia Vermelha

No dia 22 de setembro, a Reitoria da UFRJ, a Decania do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e a Direção da Faculdade de Medicina rememoram, com apoio da Coordenadoria de Comunicação da UFRJ, os quarenta anos da invasão da Faculdade de Medicina. Confira a programação completa do evento na sessão Fique de Olho.