• Edição 124
  • 27 de julho de 2006

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Energia limpa: benefício para todos

Kareen Arnhold, da AgN UFRJ/Praia Vermelha

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O aquecimento excessivo do planeta passa a ter peso considerável nas gestões econômicas. A visão tecnocrata de grandes empresas, que enfoca o lado técnico e o financeiro, começa a flexibilizar-se, aderindo ao compromisso com a preservação ambiental. Algumas dessas empresas já adotam a energia “limpa” ao perceber que ela pode tornar-se um bom negócio.

De acordo com Carlos Eduardo Young, cientista econômico, pesquisador do Grupo de Economia do Meio Ambiente do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, os “diversos especialistas defendem que a melhoria na gestão ambiental reduz os custos de produção”. Programas que permitem maior competitividade através de negócios “limpos” aumentam a capacidade de gerar receita ao reduzir o desperdício de consumo de energia e de matéria-prima, por exemplo. Por isso, pode-se falar em benefício para o setor empresarial. "Os movimentos ambientalistas descobriram que a melhor forma de se mudar a gestão das empresas é falando na língua que os executivos entendem: dinheiro”, explica Eduardo Refkalesfsky, professor de Assessoria de Comunicação da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ.

Além de atuar reduzindo os custos de produção, as normas ambientais são adotadas, em sua grande maioria, por pressão. Na opinião de Refkalesfsky, “uma empresa que não tem preocupações ambientais (como também sociais) corre dois tipos de riscos. Em primeiro lugar, processos na justiça que podem trazer multas. Em segundo, a imagem da empresa que fica ‘arranhada’ se for associada a práticas prejudiciais ao meio ambiente. Por isso, os movimentos ambientalistas procuram atuar nestas duas áreas: justiça e opinião pública”.

O Protocolo de Kyoto é um projeto que surge como uma tentativa de evitar o caos ambiental. Acordado em 1997, é implementado em 2005 com o intuito de normatizar as questões a respeito da emissão de gases, que potencializam o aumento do efeito estufa. Ele estabelece que, com a redução da emissão, os países membros devem atender a critérios ambientais, sociais e econômicos. Tal acordo abre caminho para a possibilidade do desenvolvimento sustentável.

O aquecimento global

O efeito estufa pode estar contribuindo, entre outras conseqüências, para que ocorram secas severas, que atingiram o dobro do total de terras nas últimas três décadas, para a maior incidência de furacões das categorias quatro e cinco da escala Saffir-Simpson e, conseqüentemente, para a fome e doenças. Por essa razão, espera-se que os efeitos mais dramáticos se concentrem em países africanos, como Etiópia, Somália e Sudão. Para Carlos Eduardo Young, “a natureza está cobrando seu preço por meio de uma vingança: o aquecimento global”. Esse encargo sai caro para o setor agrícola brasileiro.

A elevação da temperatura em um grau, reduz em 32% a área propícia ao cultivo de café, por exemplo. Hilton Silveira Pinto, pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp), em entrevista concedida à revista Veja (21/junho/2006), declara que “em dias com mais de 34 graus, as flores de café abortam os grãos e a produtividade cai drasticamente”. Para impedir a crise agrícola, é necessária a diversificação dos cultivos, que também é válida sob a ótica econômica, por permitir a diminuição do custo nos processos de produção.

Segundo estimativas da Organização das Nações Unidades (ONU), cerca de 150 mil pessoas morrem por ano, vítimas de catástrofes naturais relacionadas ao efeito estufa.